para quem acompanha mais um trecho do romance que tenho escrito, espero que agrade... um grande beijo.
Os copos eram poucos, alguns se aproximaram tomaram o café assoprando e chacoalhando as mãos com pressa para passar o copo aos outros que esperavam.
Lilith colocou o café no copo e caminhou para escola, que ficava a uns dez metros da casa principal e Posto Indígena, que funcionava como casa para os vinte e cinco alunos e ainda abrigava a família do chefe de posto, o marido e a esposa, os únicos adultos do posto, mais dois filhos pequenos que não estavam em idade escolar, uma menina e um menino, meninas não poderia estudar. Lilith trabalhava com vinte e cinco alunos indígenas do sexo masculino, nenhuma menina, as mulheres eram proibidas de estudar.
Na soleira da porta da sala de aula o cheiro da terra batida e molhada se misturou com o cheiro de café, a sala um grande chapéu de palha de buriti, as paredes de varas de madeira retirada da mata que começava a uns dez passos, um quadro negro pendurado na parede e para completar com requinte e tornar o ambiente mais educacional, trinta carteiras escolares do tipo colegial, embora o chão fosse de terra batida, estava extremamente limpo, tão limpo que se podiam ver as marcas da vassoura estampada, formando um desenho riscado no chão, difícil de explicar, como se fosse uma cerâmica, em que o escultor alisasse delicadamente suas mãos, Lilith ficou observou cuidadosamente, e ficou com dó de pisar, por um instante hesitou encantada.
Devagar os alunos foram entrando, a maioria de cabeça baixa, passaram por Lilith e nem repararam no que ela observava, talvez por que o artista dificilmente atribui valor artístico a sua obra. Lilith saiu de seu marasmo, e caminhou para ocupar seu lugar de “professora da Escola Indígena”.
FIZ DA SOLIDÃO UMA EMERGÊNCIA... ÀS VEZES A LUA NEGRA, ÀS VEZES A MULHER DEMÔNIO, MAS NO FUNDO UM ANJO DE ASA QUEBRADA, ACORRENTADA AS CORRENTES DO AMOR, UMA SIMPLES MULHER...
terça-feira, 20 de julho de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
domingo, 11 de julho de 2010
MAIS UM TRECHO DO MEU ROMANCE
LILITH ESCARLATE - CAPITULO II
Há dois meses Lilith aceitará o emprego de professora da Escola Indígena, um projeto piloto, para o ano de 1993, como outros tantos nos novos municípios formados no interior do Mato Grosso. Afinal ali sim, “é terra de índio”.
Ela chegará a pouco mais de um ano logo após o pleibiscito que tornará aquela terra de ninguém em cidade, não se parecia com nenhuma cidade que ela conhecerá antes, não havia ruas, havia trilhas cercadas por capim, havia poucas casas de alvenaria, havia barracos de lona preta, casas de pau-a-pique, prédios então! nem se fala, duas ou três casa de alvenaria e dois prédios públicos: Prefeitura e Câmara Municipal com nove vereadores lagartixas, tudo cercado de mata, e o pior ela nem sabia como havia chegado naquela clareira. Se tivesse que ir embora não saberia o caminho, literalmente ela aterrizará naquele chão.
As pessoas essas sim valiam à pena, simplesmente pessoas sem contaminação pelo progresso. As pessoas daquela localidade eram amigáveis e recebia a todos com igualdade, o jeito simples, e ao mesmo tempo acolhedor.
Nossa heroína chegará cheia de sonhos e planos de recomeço, acabar com o sofrimento que a perseguia desde a infância, ali ela estava com seu pai, tudo o que desejava desde a primeira infância, isso lhe dava forças para continuar, achará seu refugio, seu porto seguro, as coisas começaram a mudar, pelo menos não passava mais fome. Tinha um trabalho, não era mais uma no meio da multidão, era alguém.
- Bom dia! – expressou sem muita animação batendo a poeira das pernas e pés – E o café já tomou? Perguntou ao primeiro grupo de indígenas que encontrou, sentados em uma mesa próxima a cozinha.
- Não, ainda – respondeu um índio da aldeia Panará.
- Tá feito? Prosseguiu Lilith.
- Não?
Meio a contragosto ela acrescentou:
- Então vamos fazer né...
Partiu para a cozinha pensando no atraso da aula, mais um dia que seria mal aproveitado.
O indiozinho Panará se aproxima. E Lilith pergunta:
- Já varreram e molharam a escola.
- Já.
Lilith olhou para o relógio e pensou: - oito e quinze da manhã, já perderá quarenta e cinco minutos de aula – olhou impaciente para a água que não fervia, voltou-se para a porta e olhou com ternura para o índio Panará, que continuava parado na soleira da porta, pensou - será que ele tem ao menos doze anos? – e esboçou um leve sorriso, ela gostava dele, talvez porque a aldeia dele era a mais distante, três dias de barco voadeira descendo o rio, e mais uma hora de carro para chegar à escola, e pior não tinha nenhum parente, ele era único.
Nesse momento Lilith olhou nos olhos do indiozinho e viu... Viu o que ela muitas vezes somente sentiu... Solidão... Abandono... Vontade de ir embora daquele lugar... Sua cabeça doeu como se fosse atingida por um balde de água congelada... Eles se entreolharam por um instante... e ela não soube o que falar, apenas fez um movimento com os lábios como que dizendo: - eu sei... E concordou com um movimento de cabeça. Jogou o pó do café na água e sentiu um cheiro agradável, que a fez sorrir.
Há dois meses Lilith aceitará o emprego de professora da Escola Indígena, um projeto piloto, para o ano de 1993, como outros tantos nos novos municípios formados no interior do Mato Grosso. Afinal ali sim, “é terra de índio”.
Ela chegará a pouco mais de um ano logo após o pleibiscito que tornará aquela terra de ninguém em cidade, não se parecia com nenhuma cidade que ela conhecerá antes, não havia ruas, havia trilhas cercadas por capim, havia poucas casas de alvenaria, havia barracos de lona preta, casas de pau-a-pique, prédios então! nem se fala, duas ou três casa de alvenaria e dois prédios públicos: Prefeitura e Câmara Municipal com nove vereadores lagartixas, tudo cercado de mata, e o pior ela nem sabia como havia chegado naquela clareira. Se tivesse que ir embora não saberia o caminho, literalmente ela aterrizará naquele chão.
As pessoas essas sim valiam à pena, simplesmente pessoas sem contaminação pelo progresso. As pessoas daquela localidade eram amigáveis e recebia a todos com igualdade, o jeito simples, e ao mesmo tempo acolhedor.
Nossa heroína chegará cheia de sonhos e planos de recomeço, acabar com o sofrimento que a perseguia desde a infância, ali ela estava com seu pai, tudo o que desejava desde a primeira infância, isso lhe dava forças para continuar, achará seu refugio, seu porto seguro, as coisas começaram a mudar, pelo menos não passava mais fome. Tinha um trabalho, não era mais uma no meio da multidão, era alguém.
- Bom dia! – expressou sem muita animação batendo a poeira das pernas e pés – E o café já tomou? Perguntou ao primeiro grupo de indígenas que encontrou, sentados em uma mesa próxima a cozinha.
- Não, ainda – respondeu um índio da aldeia Panará.
- Tá feito? Prosseguiu Lilith.
- Não?
Meio a contragosto ela acrescentou:
- Então vamos fazer né...
Partiu para a cozinha pensando no atraso da aula, mais um dia que seria mal aproveitado.
O indiozinho Panará se aproxima. E Lilith pergunta:
- Já varreram e molharam a escola.
- Já.
Lilith olhou para o relógio e pensou: - oito e quinze da manhã, já perderá quarenta e cinco minutos de aula – olhou impaciente para a água que não fervia, voltou-se para a porta e olhou com ternura para o índio Panará, que continuava parado na soleira da porta, pensou - será que ele tem ao menos doze anos? – e esboçou um leve sorriso, ela gostava dele, talvez porque a aldeia dele era a mais distante, três dias de barco voadeira descendo o rio, e mais uma hora de carro para chegar à escola, e pior não tinha nenhum parente, ele era único.
Nesse momento Lilith olhou nos olhos do indiozinho e viu... Viu o que ela muitas vezes somente sentiu... Solidão... Abandono... Vontade de ir embora daquele lugar... Sua cabeça doeu como se fosse atingida por um balde de água congelada... Eles se entreolharam por um instante... e ela não soube o que falar, apenas fez um movimento com os lábios como que dizendo: - eu sei... E concordou com um movimento de cabeça. Jogou o pó do café na água e sentiu um cheiro agradável, que a fez sorrir.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
LEITURA E ESCRITA E A LEITURA DE MUNDO
Leodineia Gisete Bocato*
... Aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios... (Martins: 2003, p.34)...
Todos os dias nos deparamos com várias situações que nos faz refletir sobre o que é a LEITURA, vários estudos são feitos e os resultados são lentos, mas, progridem.
Faz-se necessário, antes de argumentarmos a respeito da leitura dos alunos que freqüentam as Escolas Estaduais do Mato Grosso[1] – principalmente do interior – definirmos alguns conceitos sobre o que é LEITURA e como se constrói o ato de ler do aluno.
Retomam-se conceitos como de Paulo Freire, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.(2003: p10). Ou ainda conforme Maria Helena Martins[2] “... O leitor pré-existe a descoberta do significado das palavras escritas” (2003: p 11), nos dois autores verifica-se que o individuo produz leitura muito antes de ter contato com palavras escritas propriamente ditas.
Pensando-se neste conceito tentaremos neste artigo lançar um olhar sobre a leitura e a dificuldade que os alunos apresentam na interpretação de textos. A interpretação tem sido um dos maiores desafios dos professores de Língua Portuguesa, pois é comum escutarmos nas salas de professores e outras dependências da escola comentários como: “meu aluno não consegue responder as questões do texto”, “O aluno não consegue passar para o papel sentidos do texto e ou que é pedido” ou ainda: “ao responder as questões o aluno saiu totalmente do ‘rumo’ do que foi pedido”. Esses são alguns dos comentários comuns entre educadores de diversas disciplinas, que por sua vez cobram explicações do professor de Língua Portuguesa (L P), neste caso acham que o professor desta disciplina (L P) conseguirá resolver todos os problemas referentes à leitura, e pior, que tem obrigação de resolvê-los.
Se o aluno vai mal na leitura, escrita e interpretação acredita-se que a culpa é do professor de L P.
Retomando ao conceito de leitura, pode-se dizer que é uma responsabilidade de todos. O aluno quando passa a freqüentar a escola traz consigo um conhecimento o qual aqui chamaremos de ‘leitura de mundo’, conforme Paulo Freire, leitura esta que é por muitas vezes deixada do lado de fora da escola e o ato de ler se torna doloroso e taxativo, nos deparamos com ‘famosas’ frases feitas como “o aluno não sabe de nada”.
Fica excluído o prazer construindo-se estereotipo, o aluno conforme vai aprimorando sua escolarização menos sente prazer em ler, o aluno não consegue perceber a leitura como uma atividade significativa em sua vida e por isso não se interessa por ela, o que causa uma frustração tanto no aluno quanto no professor que na maioria das vezes (sem querer generalizar) acaba abrindo mão das atividades de leitura em sala de aula e fora desta.
Faz-se necessário uma abertura para uma reflexão de como e quando o aluno produz leitura, ou aprende a ler, segundo Coracini[3] (1995: p.19)
“Aprender a ler equivale a descobrir o significado das palavras do texto, a pronunciar corretamente, a localizar os momentos (ou idéias) principais dos textos ali depositados de forma definitiva pela vontade consciente do autor”.
Não pretendemos aqui entrar em níveis e estágios de leitura, mas pode-se dizer que a principal função da escrita é promover uma (inter) relação de sentidos internos (textos) e externos (leitor). A produção de leitura esta relacionada indiretamente com a produção de escrita, e esta ocorre quando o leitor se torna autor.
Após pesquisa recente na Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”, com alunos da 7ª série do período matutino, verifica-se o que realmente ocorre no ambiente escolar é o desencontro entre a leitura proposta e a leitura de gosto do educando.
No levantamento de dados em nenhum momento foi mencionado pelo alunado gosto ou interesse pelos textos trabalhados na escola, o interesse do aluno esta voltado para texto que circulam fora da escola como: revistas televisivas, gibis e outros do tipo e gênero e na maioria das vezes (não generalizando) o professor não consegue se desvincular do aparato didático nas aulas de leitura e produção de escrita volta-se então a ‘velha’ questão: o lugar em que os alunos deveriam compreender, praticar, (re) visitar e revisar torna-se local de conflito e obrigatoriedade, por um lado o educador não vê desenvolvimento do aluno e por outro o educando não quer (ou não sabe) atender as exigências de leitura proposta pela escola.
Pensando nesta temática somos levados a ver, (re) ver a posição dos PCNs, que para “socorrer” o educador apresenta propostas de trabalho com textos de gêneros variados, mas ainda assim há uma resistência por parte do educador em por em pratica esta proposta em sala de aula, no interior do Estado (como disse no início deste artigo) o educador tem como principal reclamação a falta de material para o desenvolvimento da leitura, a maioria alega a falta de biblioteca, relacionando a deficiência a uma macro – estrutura, se esquecendo que o que os alunos gostam de ler textos que circulam em meio ao seu grupo.
Um dos caminhos que pode representar uma mudança no modo de se encarar a leitura e escrita, são os Projetos Didáticos e Temáticos, que não é uma solução “mais fácil”, mas sim requer o envolvimento de todos os professores e principalmente da comunidade escolar, que necessita se mobilizar para resolver o problema e não apenas deixar na responsabilidade para professor de LP, e jamais podemos esquecer que todas as demais disciplinas necessitam da leitura, escrita e interpretação tanto quanto ou mais que Língua Portuguesa.
Deixo para um próximo artigo esse tema sobre Projetos Didáticos e Temáticos, lembrando que o ato de ler existe independente da Escola, basta lembrarmos que o mundo existe e nós existimos nele, vivenciamos experiências que apesar de parecidas são únicas para cada individuo, o aluno não vem para a escola como um “saco vazio”, mas carregado de experiências, vivências e novidades, basta abrirmos a mente e principalmente o coração...
BIBLIOGRAFIA
CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo. 2003.
*Acadêmica do Curso de Letras da UNEMAT – Projeto Parceladas Núcleo de apoio Pedagógico de Confresa - MT
[1] Este artigo baseia-se em pesquisa realizada no Município de São José do Xingu, na Escola Estadual “Antonio Gomes Primo”, pesquisa esta intitulada “Problemas de leitura e escrita dos alunos da 7ª série da Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”.
[2] MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo.2003.
[3] CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
Leodineia Gisete Bocato*
... Aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios... (Martins: 2003, p.34)...
Todos os dias nos deparamos com várias situações que nos faz refletir sobre o que é a LEITURA, vários estudos são feitos e os resultados são lentos, mas, progridem.
Faz-se necessário, antes de argumentarmos a respeito da leitura dos alunos que freqüentam as Escolas Estaduais do Mato Grosso[1] – principalmente do interior – definirmos alguns conceitos sobre o que é LEITURA e como se constrói o ato de ler do aluno.
Retomam-se conceitos como de Paulo Freire, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.(2003: p10). Ou ainda conforme Maria Helena Martins[2] “... O leitor pré-existe a descoberta do significado das palavras escritas” (2003: p 11), nos dois autores verifica-se que o individuo produz leitura muito antes de ter contato com palavras escritas propriamente ditas.
Pensando-se neste conceito tentaremos neste artigo lançar um olhar sobre a leitura e a dificuldade que os alunos apresentam na interpretação de textos. A interpretação tem sido um dos maiores desafios dos professores de Língua Portuguesa, pois é comum escutarmos nas salas de professores e outras dependências da escola comentários como: “meu aluno não consegue responder as questões do texto”, “O aluno não consegue passar para o papel sentidos do texto e ou que é pedido” ou ainda: “ao responder as questões o aluno saiu totalmente do ‘rumo’ do que foi pedido”. Esses são alguns dos comentários comuns entre educadores de diversas disciplinas, que por sua vez cobram explicações do professor de Língua Portuguesa (L P), neste caso acham que o professor desta disciplina (L P) conseguirá resolver todos os problemas referentes à leitura, e pior, que tem obrigação de resolvê-los.
Se o aluno vai mal na leitura, escrita e interpretação acredita-se que a culpa é do professor de L P.
Retomando ao conceito de leitura, pode-se dizer que é uma responsabilidade de todos. O aluno quando passa a freqüentar a escola traz consigo um conhecimento o qual aqui chamaremos de ‘leitura de mundo’, conforme Paulo Freire, leitura esta que é por muitas vezes deixada do lado de fora da escola e o ato de ler se torna doloroso e taxativo, nos deparamos com ‘famosas’ frases feitas como “o aluno não sabe de nada”.
Fica excluído o prazer construindo-se estereotipo, o aluno conforme vai aprimorando sua escolarização menos sente prazer em ler, o aluno não consegue perceber a leitura como uma atividade significativa em sua vida e por isso não se interessa por ela, o que causa uma frustração tanto no aluno quanto no professor que na maioria das vezes (sem querer generalizar) acaba abrindo mão das atividades de leitura em sala de aula e fora desta.
Faz-se necessário uma abertura para uma reflexão de como e quando o aluno produz leitura, ou aprende a ler, segundo Coracini[3] (1995: p.19)
“Aprender a ler equivale a descobrir o significado das palavras do texto, a pronunciar corretamente, a localizar os momentos (ou idéias) principais dos textos ali depositados de forma definitiva pela vontade consciente do autor”.
Não pretendemos aqui entrar em níveis e estágios de leitura, mas pode-se dizer que a principal função da escrita é promover uma (inter) relação de sentidos internos (textos) e externos (leitor). A produção de leitura esta relacionada indiretamente com a produção de escrita, e esta ocorre quando o leitor se torna autor.
Após pesquisa recente na Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”, com alunos da 7ª série do período matutino, verifica-se o que realmente ocorre no ambiente escolar é o desencontro entre a leitura proposta e a leitura de gosto do educando.
No levantamento de dados em nenhum momento foi mencionado pelo alunado gosto ou interesse pelos textos trabalhados na escola, o interesse do aluno esta voltado para texto que circulam fora da escola como: revistas televisivas, gibis e outros do tipo e gênero e na maioria das vezes (não generalizando) o professor não consegue se desvincular do aparato didático nas aulas de leitura e produção de escrita volta-se então a ‘velha’ questão: o lugar em que os alunos deveriam compreender, praticar, (re) visitar e revisar torna-se local de conflito e obrigatoriedade, por um lado o educador não vê desenvolvimento do aluno e por outro o educando não quer (ou não sabe) atender as exigências de leitura proposta pela escola.
Pensando nesta temática somos levados a ver, (re) ver a posição dos PCNs, que para “socorrer” o educador apresenta propostas de trabalho com textos de gêneros variados, mas ainda assim há uma resistência por parte do educador em por em pratica esta proposta em sala de aula, no interior do Estado (como disse no início deste artigo) o educador tem como principal reclamação a falta de material para o desenvolvimento da leitura, a maioria alega a falta de biblioteca, relacionando a deficiência a uma macro – estrutura, se esquecendo que o que os alunos gostam de ler textos que circulam em meio ao seu grupo.
Um dos caminhos que pode representar uma mudança no modo de se encarar a leitura e escrita, são os Projetos Didáticos e Temáticos, que não é uma solução “mais fácil”, mas sim requer o envolvimento de todos os professores e principalmente da comunidade escolar, que necessita se mobilizar para resolver o problema e não apenas deixar na responsabilidade para professor de LP, e jamais podemos esquecer que todas as demais disciplinas necessitam da leitura, escrita e interpretação tanto quanto ou mais que Língua Portuguesa.
Deixo para um próximo artigo esse tema sobre Projetos Didáticos e Temáticos, lembrando que o ato de ler existe independente da Escola, basta lembrarmos que o mundo existe e nós existimos nele, vivenciamos experiências que apesar de parecidas são únicas para cada individuo, o aluno não vem para a escola como um “saco vazio”, mas carregado de experiências, vivências e novidades, basta abrirmos a mente e principalmente o coração...
BIBLIOGRAFIA
CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo. 2003.
*Acadêmica do Curso de Letras da UNEMAT – Projeto Parceladas Núcleo de apoio Pedagógico de Confresa - MT
[1] Este artigo baseia-se em pesquisa realizada no Município de São José do Xingu, na Escola Estadual “Antonio Gomes Primo”, pesquisa esta intitulada “Problemas de leitura e escrita dos alunos da 7ª série da Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”.
[2] MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo.2003.
[3] CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
O ELEMENTO HISTORICO SOCIAL COMO PERSONAGEM NA OBRA O MULATO DE ALUIZIO DE AZEVEDO
LEODINEIA GISETE BOCATO *
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu em 1857, na capital São Luiz do Maranhão, filho do vice-cônsul português em São Luiz, recebe a ajuda do irmão Artur Azevedo, muda-se para o Rio de Janeiro onde trabalha em vários jornais como caricaturista, retratando a política e o humor em sua época. Em 1881 lança sua primeira obra de relevo para o Realismo/Naturalismo: O Mulato, denunciando o preconceito racial das famílias ricas da província e do Estado do Maranhão. [1]
Azevedo apresenta uma forte influência de Zola e Eça de Queirós, durante 13 anos Azevedo vive exclusivamente de seu trabalho com escritor obtendo uma grande produção de romances, contos, operetas, revistas teatrais todos baseados no Realismo.[2]
Para BOSI Azevedo atinge o Naturalismo tanto no nível ideológico como no nível estético:
(...) no nível ideológico,..., na esfera da explicação do real, a certeza subjacente de um fato irreversível, cristaliza-se no determinismo (da raça, do meio, do temperamento...).
No nível estético, em que o próprio ato de escrever é o reconhecimento implícito de uma faixa de liberdade (...)[3]
Diante do exposto buscamos uma analise do Elemento Histórico – Social na obra O Mulato de Aluísio Azevedo, o qual apresenta fortes características de personagem na obra, pois a sociedade e seu tom conservadorista dão o ritmo da trama de Azevedo.
Antes de aprofundarmos, se faz necessária uma explicação a respeito do Realismo/Naturalismo. O Realismo assume tom de naturalismo, quando as personagens e o enredo são submetidos ao destino seguindo rigorosamente as leis naturais impostas pela época, o Naturalismo toma enfoque de tese e denúncia, no caso de O Mulato, denúncia de uma sociedade conservadora e corrompida pelo preconceito das famílias maranhense e a igreja na imagem do padre/bispo Dom Diogo, que cabula a trama manipulando-a do início, com a tragédia da morte do pai de Raimundo (O Mulato), provocado pelo padre que mantêm um relacionamento amoroso com Quitéria madrasta de Raimundo, este filho de uma escrava que se vê louca pelos maus tratos de dona Quitéria, até a morte do próprio Mulato Raimundo em que o padre/bispo, planeja com requintes de crueldade, para esconder seus segredos de mocidade, preservando assim uma suposta ordem social.
Azevedo apresenta logo no inicio do livro uma descrição da capital maranhense São Luiz, carregada de ironia: “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luiz do Maranhão parecia entorpecida de calor.” (2005:15)[4], desde a apresentação da cidade de São Luiz o autor tenta apresenta-la com uma coisa insignificante, melhor dizer quase que morta, mas que pulsa uma sociedade mesquinha cheia de preconceitos e feridas que maculam as pessoas de status sociais na trama, como exemplo temos o tio de Raimundo e sua família composta por sua filha Ana Rosa, moça inocente aparentemente que se apaixona pelo meio primo Raimundo, e sua sogra D. Mariana mulher carregada de preconceito que despreza Raimundo por sua condição de Filho de escrava com português e que o apelida de Mulato, dona Mariana é a figuração da sociedade Maranhense, pois seus pensamentos e seus preconceitos são compartilhados e com a maioria da população daquela sociedade.
Manuel Pescada próspero português se estabelece em São Luiz trabalhando no comercio se torna comerciante próspero e amante de Camões, também compartilha dos preconceitos, e abomina a união de Ana Rosa.
Antonio Candido[5] nos explica acerca do Elemento Histórico Social:
“O elemento social se torna um dos muitos que interferem na economia do livro ao lado dos psicológicos, religiosos, lingüísticos e outros. Neste nível de análise, em que a estrutura constitui o ponto de referencia, as divisões pouco importam, pois tudo se transforma, para o critico, em fermento orgânico de que resultou a diversidade coesa do todo.” (2002:07)
Podemos dizer então, que o elemento histórico social deve ser entendido como a personagem principal, pois devido a historia de colonização brasileira e a maneira com que foram tratados os escravos no Brasil até abolição da escravatura resulta no enredo de O Mulato.
Azevedo nada mais faz, do que alertar a podridão que esta inserida na sociedade de sua época, mostra ainda que apesar de errado o sistema nada oferece para mudar a situação latente.
O exemplo dessa situação esta claro quando na morte d’Mulato, Ana Rosa se casa com Luiz Dias pessoa que ela abominava como homem e apesar do grande amor que sentia por Raimundo se torna a mais dedicada das esposas honrando e amando seu marido[6]:
“O Dias tomara seu chapéu no corredor, e, ao embarcar no carro que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
_ Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!”(2005:247)
Nestas ultimas palavras do livro, vemos que o elemento histórico social esta presente no esquecimento da personagem Raimundo, que representava uma vergonha para a raça branca, triunfa ao fim do livro a sociedade e personagem principal (elemento histórico social) sai vitoriosa, por um outro lado o Naturalismo demonstra bem a incapacidade de uma mudança na situação, pois a realidade perde o tom romântico do final, felizes para sempre apesar das dificuldades, e ganha a cor cinza da realidade.
BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª
edição, Cultrix. São Paulo.2003.
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo
, 2002.
* ACADEMICA DO CURSO DE LETRAS DO PROJETO PARCELADAS DA UNEMAT – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.
[1] BOSI, Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira”, in – Aluízio Azevedo e os principais naturalistas – 14ª edição, Cultrix - São Paulo. 2003
[2] Idem ao 1.
[3] BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª edição, Cultrix. São Paulo.2003.
[4] AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
[5] CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo , 2002.
[6] Idem a 4
LEODINEIA GISETE BOCATO *
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu em 1857, na capital São Luiz do Maranhão, filho do vice-cônsul português em São Luiz, recebe a ajuda do irmão Artur Azevedo, muda-se para o Rio de Janeiro onde trabalha em vários jornais como caricaturista, retratando a política e o humor em sua época. Em 1881 lança sua primeira obra de relevo para o Realismo/Naturalismo: O Mulato, denunciando o preconceito racial das famílias ricas da província e do Estado do Maranhão. [1]
Azevedo apresenta uma forte influência de Zola e Eça de Queirós, durante 13 anos Azevedo vive exclusivamente de seu trabalho com escritor obtendo uma grande produção de romances, contos, operetas, revistas teatrais todos baseados no Realismo.[2]
Para BOSI Azevedo atinge o Naturalismo tanto no nível ideológico como no nível estético:
(...) no nível ideológico,..., na esfera da explicação do real, a certeza subjacente de um fato irreversível, cristaliza-se no determinismo (da raça, do meio, do temperamento...).
No nível estético, em que o próprio ato de escrever é o reconhecimento implícito de uma faixa de liberdade (...)[3]
Diante do exposto buscamos uma analise do Elemento Histórico – Social na obra O Mulato de Aluísio Azevedo, o qual apresenta fortes características de personagem na obra, pois a sociedade e seu tom conservadorista dão o ritmo da trama de Azevedo.
Antes de aprofundarmos, se faz necessária uma explicação a respeito do Realismo/Naturalismo. O Realismo assume tom de naturalismo, quando as personagens e o enredo são submetidos ao destino seguindo rigorosamente as leis naturais impostas pela época, o Naturalismo toma enfoque de tese e denúncia, no caso de O Mulato, denúncia de uma sociedade conservadora e corrompida pelo preconceito das famílias maranhense e a igreja na imagem do padre/bispo Dom Diogo, que cabula a trama manipulando-a do início, com a tragédia da morte do pai de Raimundo (O Mulato), provocado pelo padre que mantêm um relacionamento amoroso com Quitéria madrasta de Raimundo, este filho de uma escrava que se vê louca pelos maus tratos de dona Quitéria, até a morte do próprio Mulato Raimundo em que o padre/bispo, planeja com requintes de crueldade, para esconder seus segredos de mocidade, preservando assim uma suposta ordem social.
Azevedo apresenta logo no inicio do livro uma descrição da capital maranhense São Luiz, carregada de ironia: “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luiz do Maranhão parecia entorpecida de calor.” (2005:15)[4], desde a apresentação da cidade de São Luiz o autor tenta apresenta-la com uma coisa insignificante, melhor dizer quase que morta, mas que pulsa uma sociedade mesquinha cheia de preconceitos e feridas que maculam as pessoas de status sociais na trama, como exemplo temos o tio de Raimundo e sua família composta por sua filha Ana Rosa, moça inocente aparentemente que se apaixona pelo meio primo Raimundo, e sua sogra D. Mariana mulher carregada de preconceito que despreza Raimundo por sua condição de Filho de escrava com português e que o apelida de Mulato, dona Mariana é a figuração da sociedade Maranhense, pois seus pensamentos e seus preconceitos são compartilhados e com a maioria da população daquela sociedade.
Manuel Pescada próspero português se estabelece em São Luiz trabalhando no comercio se torna comerciante próspero e amante de Camões, também compartilha dos preconceitos, e abomina a união de Ana Rosa.
Antonio Candido[5] nos explica acerca do Elemento Histórico Social:
“O elemento social se torna um dos muitos que interferem na economia do livro ao lado dos psicológicos, religiosos, lingüísticos e outros. Neste nível de análise, em que a estrutura constitui o ponto de referencia, as divisões pouco importam, pois tudo se transforma, para o critico, em fermento orgânico de que resultou a diversidade coesa do todo.” (2002:07)
Podemos dizer então, que o elemento histórico social deve ser entendido como a personagem principal, pois devido a historia de colonização brasileira e a maneira com que foram tratados os escravos no Brasil até abolição da escravatura resulta no enredo de O Mulato.
Azevedo nada mais faz, do que alertar a podridão que esta inserida na sociedade de sua época, mostra ainda que apesar de errado o sistema nada oferece para mudar a situação latente.
O exemplo dessa situação esta claro quando na morte d’Mulato, Ana Rosa se casa com Luiz Dias pessoa que ela abominava como homem e apesar do grande amor que sentia por Raimundo se torna a mais dedicada das esposas honrando e amando seu marido[6]:
“O Dias tomara seu chapéu no corredor, e, ao embarcar no carro que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
_ Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!”(2005:247)
Nestas ultimas palavras do livro, vemos que o elemento histórico social esta presente no esquecimento da personagem Raimundo, que representava uma vergonha para a raça branca, triunfa ao fim do livro a sociedade e personagem principal (elemento histórico social) sai vitoriosa, por um outro lado o Naturalismo demonstra bem a incapacidade de uma mudança na situação, pois a realidade perde o tom romântico do final, felizes para sempre apesar das dificuldades, e ganha a cor cinza da realidade.
BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª
edição, Cultrix. São Paulo.2003.
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo
, 2002.
* ACADEMICA DO CURSO DE LETRAS DO PROJETO PARCELADAS DA UNEMAT – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.
[1] BOSI, Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira”, in – Aluízio Azevedo e os principais naturalistas – 14ª edição, Cultrix - São Paulo. 2003
[2] Idem ao 1.
[3] BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª edição, Cultrix. São Paulo.2003.
[4] AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
[5] CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo , 2002.
[6] Idem a 4
sexta-feira, 2 de julho de 2010
SEU OU TEU, EIS A QUESTÃO: O QUE DIZEM OS GRAMÁTICOS
Leodineia Gisete Bocato
Pelo presente artigo pretende-se comparar como estruturalistas discutem o uso do pronome “SEU”. Os estudos lingüísticos modernos trazem novos campos de pesquisa, como exemplo o lingüista francês Antoine Meillet[1] (1866-1936) propunha uma definição desse fato social, ou seja, buscou o entendimento do caráter social da língua. Por outro lado, Ferdinando Saussure[2] (1857-1913) defendia a separação das condições externas, considerando a sincronia distinta da diacronia, pode-se dizer que Saussure propõe uma separação entre os elementos internos e externos.
A partir disso os estudos lingüísticos avançam e surge a Sintaxe[3] que tem como foco de analise os sintagmas (sentenças), que possui duas grandes vertentes: 1 – Formalista ou clássica, que estuda a linguagem analisando a sua função, segundo a linha de Saussure. 2 – Sobre outra perspectiva temos o funcionalismo que observa a linguagem do ponto de vista das necessidades comunicativas. Dentro da funcionalista temos o Gerativismo que segundo Rosane Berlinck[4] traz a seguinte definição:
“A teoria Gerativista vê a linguagem como uma dotação genética. (...) A competência é a gramática interiorizada do falante, enquanto desempenho designa o uso do concreto que o falante traz desse seu conhecimento internalizada.” (2004:210)
Com base em Berlinck[5] e sua definição sobre o “uso concreto da fala.
Já a gramática do uso ou gramática internalizada propõe uma analise de como a linguagem vem sendo praticada em um meio social independente da norma, conforme explicação de Sírio Possenti[6] em “Por que (não) ensinar gramática na escola”:
“(...) A definição de gramática – conjunto de regras que o falante domina – refere-se a hipótese sobre os conhecimentos que habilitam o falante a produzir frases ou seqüências de palavras de maneira tal que essas frases e seqüências são compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua (...)” (2004:69)
Com essa explicação, temos como objetivo comparar como tratam o uso do Pronome Possessivo da 3ª pessoa “SEU”, na gramática normativa. Para retomarmos essa análise, utilizaremos frases retiradas de anúncios em uma revista feminina[7]:
(1) “Mulheres fortes de coração frágil como proteger o seu”
De acordo com a gramática normativa de Cegalla[8], o pronome possessivo na terceira pessoa do singular SEU tem por função atribuir posse de alguma coisa à pessoa do discurso (2002:173), ainda complementa que tanto pode se referir a 3ª pessoa como a 2ª pessoa do discurso, em casos em que ocorra ambigüidade os mesmos devem ser substituídos pela expressão “dele” (2002:517). Na frase 1 vemos que o pronome SEU tem a função de substituir o substantivo “coração”, não dando margem para a ambigüidade.
Nas frases:
(2) “..., o melhor é a prevenção e consultar regularmente seu médico.”
(3) “Alergia. Um assunto que merece sua atenção.”
(4) “Você sabe onde seu adolescente esta agora?”
(5) “..., a ordem é que os objetos combinem com o seu jeito de ser.”
Vemos uma outra ocorrência, o pronome SEU ocupa lugar de 2ª pessoa TEU, de acordo com as regras da gramática normativa de Cegalla[9] e Bechara[10], para os gramáticos atuais essa ocorrência já configura como comum, mas de acordo com os gramáticos mais “antigos”, ou podemos dizer mais estruturalistas e tradicionais, essa regra não é aceita, conforme podemos analisar Rocha Lima[11]:
“Pronomes possessivos são palavras que fazem referencia as pessoas do discurso, apresentando-as como possuidoras de alguma coisa. Tais palavras são pronomes da mesma família dos pessoais, porque sua significação, meramente acidental, gera em torno das pessoas do colóquio”.(1992:110 e 111)
Vemos que o autor não faz menção do uso do pronome seu na segunda pessoa do singular como ocorre nas gramáticas de Cegalla, citada anteriormente, e Bechara[12] a qual abrimos um parêntese para comparação de textos:
“Seu e dele para evitar confusão – Em algumas ocasiões, o possessivo SEU pode dar lugar a dúvidas a respeito do possuidor. Remedia-se o mal com a substituição de seu, pela forma dele, conforme convier.” (2004:181)
Concluímos então que as gramáticas normativas atuais apresentam pronome SEU não só como pronome de uso na 3ª pessoa do singular, mas também apresentam a possibilidade de variação na 2ª pessoa do singular, seguindo uma tendência mais de uso do que da norma. A questão a ser discutida é: Como os professores trabalham essa questão em sala de aula? Será que os alunos têm acesso ao material necessário para solucionar as duvidas existentes sobre essa questão?
Vemos que há a necessidade de o professor trabalhar com materiais diversificados, buscando diversas bibliografias no sentido de estabelecer uma comparação entre os gramáticos clássicos e os gramáticos atuais que trabalham com a variação de uso da língua. Aos alunos cabe a missão da pesquisa não somente em livros didáticos, mas também em textos diversos, principalmente revistas de grande circulação, pois somente através do contato direto com esse tipo de literatura, o aluno conseguira estabelecer diferenças entre a norma padrão e a variação lingüística em uso.
O importante é que tanto o SEU quanto o TEU suprem as necessidades do falante que se faz entender, e na escrita seria interessante o levantamento de discussão pelas partes interessadas, quer alunos ou professores, sempre recorrendo a diversos autores para conciliar o uso dos termos.
O grande desafio atual e poder conciliar, tanto o uso da língua e a norma culta sempre lembrando que língua materna e língua padrão não são a mesma coisa, mas isso já é tema para um outro trabalho.
BIBLIOGRAFIA
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 27ª ed. revisada e ampliada. 14ª
reimpressão, Rio de Janeiro, Lucerna, 2004.
CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – para os
estudante do nível fundamental e médio e os estudiosos da língua nacional. 45ª ed.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José
Olympio Editora, 1992
MUSSALIM, Fernanda Org. Introdução a Lingüística domínios e fronteiras I. 4ª ed. São
Paulo, Cortez, 2004.
POSSENTI,Sírio. Porque (não) Ensinar Gramática na Escola. 12ª reimpressão. Campinas:
Mercado de Letras, 2004.
Revista Claudia nº 6 ano 44, da editora Abril publicada em Junho de 2005.
[1] CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
[2] Idem a 1.
[3] MUSSALIM, Fernanda Org. Introdução a Lingüística domínios e fronteiras I. 4ª ed.São Paulo: Cortez, 2004.
[4] Idem a 3
[5] idem a 3
[6]POSSENTI,Sírio. Porque (não) Ensinar Gramática na Escola. 12ª reimpressão. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
[7] Extraído da Revista Claudia nº 6 ano 44, da editora Abril publicada em Junho de 2005.
[8] CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – para os estudante do nível fundamental e médio e os estudiosos da língua nacional. 45ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002
[9] Idem a 9
[10] BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 27ª ed. revisada e ampliada. 14ª reimpressão, Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
[11] LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1992
[12] Idem a 11.
Leodineia Gisete Bocato
Pelo presente artigo pretende-se comparar como estruturalistas discutem o uso do pronome “SEU”. Os estudos lingüísticos modernos trazem novos campos de pesquisa, como exemplo o lingüista francês Antoine Meillet[1] (1866-1936) propunha uma definição desse fato social, ou seja, buscou o entendimento do caráter social da língua. Por outro lado, Ferdinando Saussure[2] (1857-1913) defendia a separação das condições externas, considerando a sincronia distinta da diacronia, pode-se dizer que Saussure propõe uma separação entre os elementos internos e externos.
A partir disso os estudos lingüísticos avançam e surge a Sintaxe[3] que tem como foco de analise os sintagmas (sentenças), que possui duas grandes vertentes: 1 – Formalista ou clássica, que estuda a linguagem analisando a sua função, segundo a linha de Saussure. 2 – Sobre outra perspectiva temos o funcionalismo que observa a linguagem do ponto de vista das necessidades comunicativas. Dentro da funcionalista temos o Gerativismo que segundo Rosane Berlinck[4] traz a seguinte definição:
“A teoria Gerativista vê a linguagem como uma dotação genética. (...) A competência é a gramática interiorizada do falante, enquanto desempenho designa o uso do concreto que o falante traz desse seu conhecimento internalizada.” (2004:210)
Com base em Berlinck[5] e sua definição sobre o “uso concreto da fala.
Já a gramática do uso ou gramática internalizada propõe uma analise de como a linguagem vem sendo praticada em um meio social independente da norma, conforme explicação de Sírio Possenti[6] em “Por que (não) ensinar gramática na escola”:
“(...) A definição de gramática – conjunto de regras que o falante domina – refere-se a hipótese sobre os conhecimentos que habilitam o falante a produzir frases ou seqüências de palavras de maneira tal que essas frases e seqüências são compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua (...)” (2004:69)
Com essa explicação, temos como objetivo comparar como tratam o uso do Pronome Possessivo da 3ª pessoa “SEU”, na gramática normativa. Para retomarmos essa análise, utilizaremos frases retiradas de anúncios em uma revista feminina[7]:
(1) “Mulheres fortes de coração frágil como proteger o seu”
De acordo com a gramática normativa de Cegalla[8], o pronome possessivo na terceira pessoa do singular SEU tem por função atribuir posse de alguma coisa à pessoa do discurso (2002:173), ainda complementa que tanto pode se referir a 3ª pessoa como a 2ª pessoa do discurso, em casos em que ocorra ambigüidade os mesmos devem ser substituídos pela expressão “dele” (2002:517). Na frase 1 vemos que o pronome SEU tem a função de substituir o substantivo “coração”, não dando margem para a ambigüidade.
Nas frases:
(2) “..., o melhor é a prevenção e consultar regularmente seu médico.”
(3) “Alergia. Um assunto que merece sua atenção.”
(4) “Você sabe onde seu adolescente esta agora?”
(5) “..., a ordem é que os objetos combinem com o seu jeito de ser.”
Vemos uma outra ocorrência, o pronome SEU ocupa lugar de 2ª pessoa TEU, de acordo com as regras da gramática normativa de Cegalla[9] e Bechara[10], para os gramáticos atuais essa ocorrência já configura como comum, mas de acordo com os gramáticos mais “antigos”, ou podemos dizer mais estruturalistas e tradicionais, essa regra não é aceita, conforme podemos analisar Rocha Lima[11]:
“Pronomes possessivos são palavras que fazem referencia as pessoas do discurso, apresentando-as como possuidoras de alguma coisa. Tais palavras são pronomes da mesma família dos pessoais, porque sua significação, meramente acidental, gera em torno das pessoas do colóquio”.(1992:110 e 111)
Vemos que o autor não faz menção do uso do pronome seu na segunda pessoa do singular como ocorre nas gramáticas de Cegalla, citada anteriormente, e Bechara[12] a qual abrimos um parêntese para comparação de textos:
“Seu e dele para evitar confusão – Em algumas ocasiões, o possessivo SEU pode dar lugar a dúvidas a respeito do possuidor. Remedia-se o mal com a substituição de seu, pela forma dele, conforme convier.” (2004:181)
Concluímos então que as gramáticas normativas atuais apresentam pronome SEU não só como pronome de uso na 3ª pessoa do singular, mas também apresentam a possibilidade de variação na 2ª pessoa do singular, seguindo uma tendência mais de uso do que da norma. A questão a ser discutida é: Como os professores trabalham essa questão em sala de aula? Será que os alunos têm acesso ao material necessário para solucionar as duvidas existentes sobre essa questão?
Vemos que há a necessidade de o professor trabalhar com materiais diversificados, buscando diversas bibliografias no sentido de estabelecer uma comparação entre os gramáticos clássicos e os gramáticos atuais que trabalham com a variação de uso da língua. Aos alunos cabe a missão da pesquisa não somente em livros didáticos, mas também em textos diversos, principalmente revistas de grande circulação, pois somente através do contato direto com esse tipo de literatura, o aluno conseguira estabelecer diferenças entre a norma padrão e a variação lingüística em uso.
O importante é que tanto o SEU quanto o TEU suprem as necessidades do falante que se faz entender, e na escrita seria interessante o levantamento de discussão pelas partes interessadas, quer alunos ou professores, sempre recorrendo a diversos autores para conciliar o uso dos termos.
O grande desafio atual e poder conciliar, tanto o uso da língua e a norma culta sempre lembrando que língua materna e língua padrão não são a mesma coisa, mas isso já é tema para um outro trabalho.
BIBLIOGRAFIA
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 27ª ed. revisada e ampliada. 14ª
reimpressão, Rio de Janeiro, Lucerna, 2004.
CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – para os
estudante do nível fundamental e médio e os estudiosos da língua nacional. 45ª ed.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José
Olympio Editora, 1992
MUSSALIM, Fernanda Org. Introdução a Lingüística domínios e fronteiras I. 4ª ed. São
Paulo, Cortez, 2004.
POSSENTI,Sírio. Porque (não) Ensinar Gramática na Escola. 12ª reimpressão. Campinas:
Mercado de Letras, 2004.
Revista Claudia nº 6 ano 44, da editora Abril publicada em Junho de 2005.
[1] CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
[2] Idem a 1.
[3] MUSSALIM, Fernanda Org. Introdução a Lingüística domínios e fronteiras I. 4ª ed.São Paulo: Cortez, 2004.
[4] Idem a 3
[5] idem a 3
[6]POSSENTI,Sírio. Porque (não) Ensinar Gramática na Escola. 12ª reimpressão. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
[7] Extraído da Revista Claudia nº 6 ano 44, da editora Abril publicada em Junho de 2005.
[8] CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – para os estudante do nível fundamental e médio e os estudiosos da língua nacional. 45ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002
[9] Idem a 9
[10] BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 27ª ed. revisada e ampliada. 14ª reimpressão, Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
[11] LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1992
[12] Idem a 11.
POETA DO MUNDO... MULHER DO MUNDO: POESIA DE PERSONA
LEODINEIA GISETE BOCATO*
A poeta Lucinda Persona inicia sua poesia com o título “DESLIZAM GATOS”, nos remete a pensamentos míticos e nebulosos o verbo ‘deslizam’ no pretérito perfeito, faz uma alusão a volta ao passado que interferiu na história e promoveu causa e efeito na humanidade, segundo dicionário de símbolo o gato ‘é um símbolo ambivalente” ( 1990:p. 105), a figura do gato envolve um mistério desde a antiguidade como figura referenciada que possui sentido ambíguo, no oriente é figura de mal agouro e no ocidente é representação da deusa Bastet protetora dos lares, das mãe e das crianças.
Percebe-se o gato como representação da mulher que Lucinda Persona ocupa em sua poesia, mulher que observa e vive o cotidiano, que faz reflexão de coisas do dia-a-dia, das grandes cidades, isto é o diferencial de Persona, que embora poeta Mato grossense possui poesia de teor universal, não ligada a regionalismos.
Persona utiliza-se da palavra para descrever e criar imagens cotidianas que se transfiguram em aspectos da alma humana, conforme sugere Cocco: “... eu poético, parte de uma situação trivial a uma aventura reflexiva a cerca da sua existência.” (2005: p.153). Esse aspecto é detectável logo na primeira estrofe de ‘Deslizam Gatos’.
Horrivelmente casuais
são certos ensinamentos
aprendo
em vários momentos
como age a vida
A composição da estrofe embora com ritmos entoados por ‘ensinamentos’ e ‘momentos’, apresenta uma subdivisão em forma de enjambemant que separam os dois termos e ao mesmo tempo liga a explicação de como ocorre o ‘ensinamento’. No final da estrofe vemos uma símile de comparação ‘como’ que liga a estrofe seguinte, semanticamente dá-nos a idéia de uma expressão da alma ou do eu - poético em como é difícil aprender e amadurecer e isto está intimamente ligado ao fato de estarmos presos a uma cidade ou sociedade:
nesta cidade
onde tantos foram queimados vivos
não há sequer sombra
de que a alegria possa existir
Na construção ‘a vida age’ em um determinado espaço um lugar que se instala através de imagem de um passado, este lugar é marcado pelo advérbio de lugar ‘onde’, que situa o eu – poético em seu devaneio.
A alegria para o eu – poética é uma coisa inimaginável, pois alegrar-se significa lembrar-se de martírios e sofrimentos da alma.
A construção da poesia prossegue:
tudo é tão antigo
são de mármore as almas
Apolo (com seu pênis de pedra)
vive à custa do rígido contorno
de sua calma
uns poucos transeuntes
estão para sempre presos
em seus itinerários
Recorremos agora ao conceito de imagem proposto por Bosi “o ato de ver apanha não só a aparência da coisa, mas alguma relação entre nós e essa aparência” (2000: p.19).
Persona utiliza-se da construção de sentidos com imagens captadas através da visão surrealista do eu - poético, tenta reconstruir um quadro de sua angustia é como uma artífice trabalha com a palavra as imagens que devoram seu interior, usa de metáforas, ‘são de mármore as almas’, expressam o frio de seu interior. A terceira estrofe ‘Apolo (com seu pênis de pedra)’ produz uma digressão sonora, semanticamente a expressão da dureza do ‘real’, Apolo é posto como um reprodutor sem sentimentos, frio, parado, estático com sua ‘calma’.
O eu – poético nos três últimos versos da estrofe não vê saída, tudo está para sempre preso aos caminhos o qual chama itinerários. Cocco nos faz pensar a questão do tempo “o que sobressai é o tempo psicológico. Não é possível precisar o tempo de devaneio do eu lírico e, por mais que os poemas sejam curtos, a sensação que se tem é de infinitude.” (2005: p. 153) é o que vemos na estrofe seguinte:
e o tempo
sem pressa
desmancha o coliseu
Vemos que o tempo poético é o único vitorioso que consegue desmanchar todas as mágoas e conflitos do eu – poético, o tempo é eterno.
Persona utiliza-se ainda de alegoria e humanização do ‘dia’:
o dia esta quase morto
nestas ruínas
por onde deslizam gatos
O devaneio está se findando, as ruínas continuam, ruínas em que deslizam gatos, que personificam os pensamentos ou a existência do eu – poético. A figura do gato que anda por todos os cantos da existência feminina é uma figura mítica com olhos que corroem, ‘olhos de calcário’, mais uma vez a poeta utiliza recursos metafóricos provocando uma sinestesia:
com olhos de calcário
cidade dos martírios
seus tumores cresceram
e agora são colinas.
A reflexão do eu – poético vai se perdendo no tempo e na construção das metáforas, a cidade é um lugar de dores, que esconde temores da alma que cresceram tanto que são quase palpáveis e se tornam colinas, visíveis aos olhos sensíveis do eu – poético.
O devaneio se finda, mas a poesia de Persona é eterna, seu estilo contemporâneo contempla toda existência do ser com seu trabalho elaborado com as palavras, essa é Persona, essa é a representação da mulher Mato grossense e por que não dizer da mulher do mundo...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. 6ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
COCCO, Marta Helena. O ensino da Literatura Produzida em Mato Grosso: Regionalismos e Identidades. Cuiabá: Cathedral Publicações, 2006.
LEXICON, Herder. Dicionário de Símbolos. São Paulo: Cultrix, 1990.
MAPAS DA MINA: Estudos de Literatura em Mato Grosso/ Mário Cezar Silva Leite (org). In Marta Helena Cocco: Culinária Poética em Lucinda Persona: Um Banquete de Imagens. Cuiabá: Cathedral publicações, 2005.
PERSONA, Lucinda Nogueira. Sopa Escaldante. Rio de Janeiro: 7Lettras, 2001.
* Acadêmica do Curso de Letras Licenciatura Plenas Parceladas Campus do Médio Araguaia Núcleo Pedagógico de Confresa – MT, disciplina Literatura Mato grossense sob orientação da Profª.Ms. Renata Brandespin Rolon.
LEODINEIA GISETE BOCATO*
A poeta Lucinda Persona inicia sua poesia com o título “DESLIZAM GATOS”, nos remete a pensamentos míticos e nebulosos o verbo ‘deslizam’ no pretérito perfeito, faz uma alusão a volta ao passado que interferiu na história e promoveu causa e efeito na humanidade, segundo dicionário de símbolo o gato ‘é um símbolo ambivalente” ( 1990:p. 105), a figura do gato envolve um mistério desde a antiguidade como figura referenciada que possui sentido ambíguo, no oriente é figura de mal agouro e no ocidente é representação da deusa Bastet protetora dos lares, das mãe e das crianças.
Percebe-se o gato como representação da mulher que Lucinda Persona ocupa em sua poesia, mulher que observa e vive o cotidiano, que faz reflexão de coisas do dia-a-dia, das grandes cidades, isto é o diferencial de Persona, que embora poeta Mato grossense possui poesia de teor universal, não ligada a regionalismos.
Persona utiliza-se da palavra para descrever e criar imagens cotidianas que se transfiguram em aspectos da alma humana, conforme sugere Cocco: “... eu poético, parte de uma situação trivial a uma aventura reflexiva a cerca da sua existência.” (2005: p.153). Esse aspecto é detectável logo na primeira estrofe de ‘Deslizam Gatos’.
Horrivelmente casuais
são certos ensinamentos
aprendo
em vários momentos
como age a vida
A composição da estrofe embora com ritmos entoados por ‘ensinamentos’ e ‘momentos’, apresenta uma subdivisão em forma de enjambemant que separam os dois termos e ao mesmo tempo liga a explicação de como ocorre o ‘ensinamento’. No final da estrofe vemos uma símile de comparação ‘como’ que liga a estrofe seguinte, semanticamente dá-nos a idéia de uma expressão da alma ou do eu - poético em como é difícil aprender e amadurecer e isto está intimamente ligado ao fato de estarmos presos a uma cidade ou sociedade:
nesta cidade
onde tantos foram queimados vivos
não há sequer sombra
de que a alegria possa existir
Na construção ‘a vida age’ em um determinado espaço um lugar que se instala através de imagem de um passado, este lugar é marcado pelo advérbio de lugar ‘onde’, que situa o eu – poético em seu devaneio.
A alegria para o eu – poética é uma coisa inimaginável, pois alegrar-se significa lembrar-se de martírios e sofrimentos da alma.
A construção da poesia prossegue:
tudo é tão antigo
são de mármore as almas
Apolo (com seu pênis de pedra)
vive à custa do rígido contorno
de sua calma
uns poucos transeuntes
estão para sempre presos
em seus itinerários
Recorremos agora ao conceito de imagem proposto por Bosi “o ato de ver apanha não só a aparência da coisa, mas alguma relação entre nós e essa aparência” (2000: p.19).
Persona utiliza-se da construção de sentidos com imagens captadas através da visão surrealista do eu - poético, tenta reconstruir um quadro de sua angustia é como uma artífice trabalha com a palavra as imagens que devoram seu interior, usa de metáforas, ‘são de mármore as almas’, expressam o frio de seu interior. A terceira estrofe ‘Apolo (com seu pênis de pedra)’ produz uma digressão sonora, semanticamente a expressão da dureza do ‘real’, Apolo é posto como um reprodutor sem sentimentos, frio, parado, estático com sua ‘calma’.
O eu – poético nos três últimos versos da estrofe não vê saída, tudo está para sempre preso aos caminhos o qual chama itinerários. Cocco nos faz pensar a questão do tempo “o que sobressai é o tempo psicológico. Não é possível precisar o tempo de devaneio do eu lírico e, por mais que os poemas sejam curtos, a sensação que se tem é de infinitude.” (2005: p. 153) é o que vemos na estrofe seguinte:
e o tempo
sem pressa
desmancha o coliseu
Vemos que o tempo poético é o único vitorioso que consegue desmanchar todas as mágoas e conflitos do eu – poético, o tempo é eterno.
Persona utiliza-se ainda de alegoria e humanização do ‘dia’:
o dia esta quase morto
nestas ruínas
por onde deslizam gatos
O devaneio está se findando, as ruínas continuam, ruínas em que deslizam gatos, que personificam os pensamentos ou a existência do eu – poético. A figura do gato que anda por todos os cantos da existência feminina é uma figura mítica com olhos que corroem, ‘olhos de calcário’, mais uma vez a poeta utiliza recursos metafóricos provocando uma sinestesia:
com olhos de calcário
cidade dos martírios
seus tumores cresceram
e agora são colinas.
A reflexão do eu – poético vai se perdendo no tempo e na construção das metáforas, a cidade é um lugar de dores, que esconde temores da alma que cresceram tanto que são quase palpáveis e se tornam colinas, visíveis aos olhos sensíveis do eu – poético.
O devaneio se finda, mas a poesia de Persona é eterna, seu estilo contemporâneo contempla toda existência do ser com seu trabalho elaborado com as palavras, essa é Persona, essa é a representação da mulher Mato grossense e por que não dizer da mulher do mundo...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. 6ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
COCCO, Marta Helena. O ensino da Literatura Produzida em Mato Grosso: Regionalismos e Identidades. Cuiabá: Cathedral Publicações, 2006.
LEXICON, Herder. Dicionário de Símbolos. São Paulo: Cultrix, 1990.
MAPAS DA MINA: Estudos de Literatura em Mato Grosso/ Mário Cezar Silva Leite (org). In Marta Helena Cocco: Culinária Poética em Lucinda Persona: Um Banquete de Imagens. Cuiabá: Cathedral publicações, 2005.
PERSONA, Lucinda Nogueira. Sopa Escaldante. Rio de Janeiro: 7Lettras, 2001.
* Acadêmica do Curso de Letras Licenciatura Plenas Parceladas Campus do Médio Araguaia Núcleo Pedagógico de Confresa – MT, disciplina Literatura Mato grossense sob orientação da Profª.Ms. Renata Brandespin Rolon.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
"A IRONIA NO CONTO A CARTOMANTE DE MACHADO DE ASSIS"
“A IRONIA NO CONTO A CARTOMANTE DE MACHADO DE ASSIS”
LEODINEIA GISETE BOCATO[1]
“(...) Há mais cousas no céu e na terra
do que sonha a nossa filosofia (...)”[2]
Com esta passagem de Shakespeare, iniciamos uma analise do Conto A Cartomante e os elementos Realistas que os constituem, dentre eles daremos preferência a ironia.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no Estado do Rio de Janeiro filho de um pintor mulato e de uma lavadeira açoriana, apresentava uma saúde fraca desde a infância humilde, aos dezessete anos entrou na Impressa Nacional como aprendiz de tipógrafo. Na década de 60 escreve suas primeiras comedias, em 1881 publica Memórias Póstumas de Brás Cubas atingindo a maturidade de seu realismo.[3]
O conto A Cartomante nos traz uma narrativa com a marca “clássica” de ironia machadiana. Um triângulo amoroso envolvendo dois amigos de infância: Camilo o qual o narrador classifica como um ingênuo na vida moral e prática que exerce a função de funcionário público: Vilela advogado formado na província que retorna ao Rio de Janeiro para exercer a advocacia e traz consigo Rita, sua esposa “dama formosa e tonta”.
Vemos que ironia esta presente desde a apresentação das personagens:
“(....) Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No principio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta, abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. (...)” (s/d:40)
Em seu trabalho Teoria do Texto[4] D’Onofrio nos explica como ocorre a ironia de Machado de Assis:
“(...) A ironia, como figura de estilo é um metassemema ( figura de sentido), que consiste em dizer o contrario daquilo que se esta pensando.(...)” (2001: 127).
Verificamos a ironia machadiana presente nas palavras do narrador ao dizer que não há nenhuma explicação da origem do triângulo amoroso entre Rita, Vilela e Camilo, o narrador utiliza-se da expressão “nenhuma explicação”, como se fosse uma coisa impossível de acontecer, dá a intenção de não conhecer a historia usa de malicia para despertar no leitor o interesse pelo relato.
No decorrer da história volta a ironizar a condição de Camilo considerando “sem experiência, nem intuição” (s/d: 40), como se este não conhecesse nada da vida. D’Onofrio caracteriza esse tipo de “ironia como disposição de espírito provocada pela reflexão sobre as contradições da alma humana e do convívio social”[5].
O narrador brinca com o leitor ironizando a condição da personagem Camilo que se apaixona por Rita, não parando por aí continua sua sagacidade, ironiza inclusive a morte, com o falecimento da mãe de Camilo faz a seguinte descrição; “(...)Vilela cuidou do enterro dos sufrágios e do inventario; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. (...)” (s/d:41).
No desenrolar da narrativa o narrador utiliza-se de ditados populares para descrever o envolvimento de Rita e Camilo e a falta de remorso de ambos para com Vilela:
“(...) vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos estrada a fora, braços dados, pisando folgadamente de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. (...)” (s/d: 41).”
D’Onofrio esclarece que o narrador tenta explicar com suas palavras os sentimentos e pensamentos das personagens.
Recorremos ainda a Amaury Sanchez[6] em Panorama da Literatura no Brasil que classifica a ironia machadiana como:
“(...) Assim, a ironia, seu procedimento mais sistemático, mostra que a defasagem entre convicções e ação não provoca nenhum tipo de tensão nos indivíduos e é precisamente aí que esta a raiz do comportamento hipócrita que tanto caracteriza as pessoas e a sociedade. (...)” (1982:43).
Podemos ver que o narrador machadiano trata dos sentimentos e do relacionamento das personagens Camilo e Rita com uma certa poesia, revelando que nenhum dos dois sentia remorso pelo amigo e marido Vilela, apesar do medo da sociedade e do marido traído deixaram todos os escrúpulos de lado e continuaram estimando Vilela.
No conto A Cartomante o narrador ironiza a condição da família até mesmo a ignorância quanto a fé religiosa e as crendices populares, quando a personagem Camilo deixa de ser cético e passa a acreditar na cartomante como uma entidade capaz de adivinhar o que se passa em sua vida, o narrador ironiza e brinca com a “verdade” exposta pela cartomante e a fé de Camilo nesta:“(...) Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro, porque não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro.(...)” (s/d:43).
Com esta ironia o narrador propõe a derrota de Camilo, pois no momento em que este deixa a subjetividade tomar conta de seu racional a personagem retorna a um novo estado de confiança acreditando que seu relacionamento com Rita jamais será descoberto pelo marido traído.
Nesta situação que o narrador machadiano brinca com o pessimismo da personagem acrescentando um tipo de humor funesto conforme podemos extrair de Teixeira [7] :
“(...) Diante do caos da existência, o riso apresentava-se-lhe como um modo de suspender o desejo para melhor observar e compreender a humanidade. Decorreu daí um dos principais traços de seu espírito, a ironia que é o riso dividido, pelo excesso de lucidez entre o desencanto e o cinismo. (...)” (1998:04).
O final do conto sugere o desmascaramento da cartomante como entidade retentora de poder, pois o previsto por ela não acontece e as personagens Rita e Camilo são assassinadas por Vilela, contrariando todas as previsões da cartomante.
Machado de Assis propõe uma critica a sociedade e crenças populares que buscam explicar e adivinhar o futuro, sua narrativa aberta deixa ao leitor a tarefa de fazer o julgamento, essa característica é tratada por Antonio Candido [8] como sendo um “estilo refinado”, o que é uma ousadia para a época em que escreveu Machado:
“(...) foram a sua ironia e seu estilo, concebido como “ boa linguagem”. Um dependia do outro, esta claro, e a palavra que melhor reúne para critica do tempo talvez seja finura. Ironia fina estilo refinado, evocando as noções de ponta aguda e penetrante de delicadeza e força juntamente. (...)” (1995:22).
Esse é Machado de Assis irônico ao extremo não só com a sociedade em que vivia em sua época mas até os dias aturais.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Machado. Contos escolhidos; A Cartomante s/d.
BOSI, Alfredo. Historia Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo. Cultrix, 1994.
CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. 3ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995
D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2001.
SANCHEZ, Amaury. Panorama da Literatura do Brasil. São Paulo: Abril Educação, 1982.
TEIXEIRA, Ivam. Apresentação de Machado de Assis. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[1] Graduanda do curso de Letras UNEMAT Parceladas
[2] Hamlet. In Assis , Machado “Contos Escolhidos”: A Cartomante.
[3] BOSI, Alfredo. “Historia Concisa da Literatura Brasileira”. In O Realismo: São Paulo. Cultrix, 1994.
[4] D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2001.
[5] D’ONOFRIO: 128
[6] SANCHEZ, Amaury. Panorama da Literatura no Brasil. In: Realismo, Naturalismo, Parnasianismo. São Paulo: Abril Educação, 1982.
[7] TEIXEIRA, Ivam. In. Introdução: Apresentação de Machado de Assis. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[8] CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários Escritos 3ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
LEODINEIA GISETE BOCATO[1]
“(...) Há mais cousas no céu e na terra
do que sonha a nossa filosofia (...)”[2]
Com esta passagem de Shakespeare, iniciamos uma analise do Conto A Cartomante e os elementos Realistas que os constituem, dentre eles daremos preferência a ironia.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no Estado do Rio de Janeiro filho de um pintor mulato e de uma lavadeira açoriana, apresentava uma saúde fraca desde a infância humilde, aos dezessete anos entrou na Impressa Nacional como aprendiz de tipógrafo. Na década de 60 escreve suas primeiras comedias, em 1881 publica Memórias Póstumas de Brás Cubas atingindo a maturidade de seu realismo.[3]
O conto A Cartomante nos traz uma narrativa com a marca “clássica” de ironia machadiana. Um triângulo amoroso envolvendo dois amigos de infância: Camilo o qual o narrador classifica como um ingênuo na vida moral e prática que exerce a função de funcionário público: Vilela advogado formado na província que retorna ao Rio de Janeiro para exercer a advocacia e traz consigo Rita, sua esposa “dama formosa e tonta”.
Vemos que ironia esta presente desde a apresentação das personagens:
“(....) Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No principio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta, abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. (...)” (s/d:40)
Em seu trabalho Teoria do Texto[4] D’Onofrio nos explica como ocorre a ironia de Machado de Assis:
“(...) A ironia, como figura de estilo é um metassemema ( figura de sentido), que consiste em dizer o contrario daquilo que se esta pensando.(...)” (2001: 127).
Verificamos a ironia machadiana presente nas palavras do narrador ao dizer que não há nenhuma explicação da origem do triângulo amoroso entre Rita, Vilela e Camilo, o narrador utiliza-se da expressão “nenhuma explicação”, como se fosse uma coisa impossível de acontecer, dá a intenção de não conhecer a historia usa de malicia para despertar no leitor o interesse pelo relato.
No decorrer da história volta a ironizar a condição de Camilo considerando “sem experiência, nem intuição” (s/d: 40), como se este não conhecesse nada da vida. D’Onofrio caracteriza esse tipo de “ironia como disposição de espírito provocada pela reflexão sobre as contradições da alma humana e do convívio social”[5].
O narrador brinca com o leitor ironizando a condição da personagem Camilo que se apaixona por Rita, não parando por aí continua sua sagacidade, ironiza inclusive a morte, com o falecimento da mãe de Camilo faz a seguinte descrição; “(...)Vilela cuidou do enterro dos sufrágios e do inventario; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. (...)” (s/d:41).
No desenrolar da narrativa o narrador utiliza-se de ditados populares para descrever o envolvimento de Rita e Camilo e a falta de remorso de ambos para com Vilela:
“(...) vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos estrada a fora, braços dados, pisando folgadamente de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. (...)” (s/d: 41).”
D’Onofrio esclarece que o narrador tenta explicar com suas palavras os sentimentos e pensamentos das personagens.
Recorremos ainda a Amaury Sanchez[6] em Panorama da Literatura no Brasil que classifica a ironia machadiana como:
“(...) Assim, a ironia, seu procedimento mais sistemático, mostra que a defasagem entre convicções e ação não provoca nenhum tipo de tensão nos indivíduos e é precisamente aí que esta a raiz do comportamento hipócrita que tanto caracteriza as pessoas e a sociedade. (...)” (1982:43).
Podemos ver que o narrador machadiano trata dos sentimentos e do relacionamento das personagens Camilo e Rita com uma certa poesia, revelando que nenhum dos dois sentia remorso pelo amigo e marido Vilela, apesar do medo da sociedade e do marido traído deixaram todos os escrúpulos de lado e continuaram estimando Vilela.
No conto A Cartomante o narrador ironiza a condição da família até mesmo a ignorância quanto a fé religiosa e as crendices populares, quando a personagem Camilo deixa de ser cético e passa a acreditar na cartomante como uma entidade capaz de adivinhar o que se passa em sua vida, o narrador ironiza e brinca com a “verdade” exposta pela cartomante e a fé de Camilo nesta:“(...) Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro, porque não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro.(...)” (s/d:43).
Com esta ironia o narrador propõe a derrota de Camilo, pois no momento em que este deixa a subjetividade tomar conta de seu racional a personagem retorna a um novo estado de confiança acreditando que seu relacionamento com Rita jamais será descoberto pelo marido traído.
Nesta situação que o narrador machadiano brinca com o pessimismo da personagem acrescentando um tipo de humor funesto conforme podemos extrair de Teixeira [7] :
“(...) Diante do caos da existência, o riso apresentava-se-lhe como um modo de suspender o desejo para melhor observar e compreender a humanidade. Decorreu daí um dos principais traços de seu espírito, a ironia que é o riso dividido, pelo excesso de lucidez entre o desencanto e o cinismo. (...)” (1998:04).
O final do conto sugere o desmascaramento da cartomante como entidade retentora de poder, pois o previsto por ela não acontece e as personagens Rita e Camilo são assassinadas por Vilela, contrariando todas as previsões da cartomante.
Machado de Assis propõe uma critica a sociedade e crenças populares que buscam explicar e adivinhar o futuro, sua narrativa aberta deixa ao leitor a tarefa de fazer o julgamento, essa característica é tratada por Antonio Candido [8] como sendo um “estilo refinado”, o que é uma ousadia para a época em que escreveu Machado:
“(...) foram a sua ironia e seu estilo, concebido como “ boa linguagem”. Um dependia do outro, esta claro, e a palavra que melhor reúne para critica do tempo talvez seja finura. Ironia fina estilo refinado, evocando as noções de ponta aguda e penetrante de delicadeza e força juntamente. (...)” (1995:22).
Esse é Machado de Assis irônico ao extremo não só com a sociedade em que vivia em sua época mas até os dias aturais.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Machado. Contos escolhidos; A Cartomante s/d.
BOSI, Alfredo. Historia Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo. Cultrix, 1994.
CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. 3ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995
D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2001.
SANCHEZ, Amaury. Panorama da Literatura do Brasil. São Paulo: Abril Educação, 1982.
TEIXEIRA, Ivam. Apresentação de Machado de Assis. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[1] Graduanda do curso de Letras UNEMAT Parceladas
[2] Hamlet. In Assis , Machado “Contos Escolhidos”: A Cartomante.
[3] BOSI, Alfredo. “Historia Concisa da Literatura Brasileira”. In O Realismo: São Paulo. Cultrix, 1994.
[4] D’ONOFRIO, Salvatore. Teoria do Texto. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2001.
[5] D’ONOFRIO: 128
[6] SANCHEZ, Amaury. Panorama da Literatura no Brasil. In: Realismo, Naturalismo, Parnasianismo. São Paulo: Abril Educação, 1982.
[7] TEIXEIRA, Ivam. In. Introdução: Apresentação de Machado de Assis. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[8] CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários Escritos 3ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
domingo, 27 de junho de 2010
A FUNÇÃO DA ILUSTRAÇÃO N’O MENINO MALUQUINHO
Leodineia Gisete Bocato *
“O Menino Maluquinho não parece tão inovador, pois Ziraldo emprega seu traço característico em figura desenhada em preto sobre o fundo branco, onde coloca o texto”(2005:156)[1]
O livro O Menino Maluquinho de Ziraldo Alves Pinto, embora não apresente uma novidade nas ilustrações se transforma em fenômeno da literatura infantil em 1980 consagrando seu autor.
Ziraldo nasce em 1932 na cidade de Caratinga Minas Gerais, formo-se em Direito na faculdade de Direito de Minas Gerais em Belo Horizonte. O “mineirinho” Ziraldo em 1980 lança O Menino Maluquinho na Bienal do livro de São Paulo, como Zilberman, assinala as ilustrações de Ziraldo mantêm seu traço característico, desenhos pretos sobre o branco com exceção a capa em que O Menino Maluquinho traja roupas e sapatos coloridos, traz marcas nas bochechas como se representando uma expressão de alegria e vida saudável, traz também uma panela na cabeça que é sua marca como herói.
Na entre capa Ziraldo concebe uma ilustração com varias crianças e personagens criadas por ele, todos com expressão de felicidade.
No decorrer do livro Ziraldo[2] apresenta um menino que embora não tenha nome próprio se distingue dos demais pelo uso do artigo “O”. A construção da personagem busca um entrosamento da ilustração ajudando na compreensão e aguçando o imaginário infantil, como exemplo, vemos a apresentação do menino e suas qualidades representadas nas ilustrações:
1-“Era uma vez um menino maluquinho”(1980:07)
2-“Ele tinha o olho maior que a barriga” (1980:08)
3-“Tinha fogo no rabo” (1980:09)
4-“Tinha vento nos pés” (1980:10)
5-“Umas pernas enormes
(Que davam para abraçar o mundo)” (1980:11)
6-“E macaquinhos no sótão
(embora nem soubesse o que
Significava macaquinho no sótão)”(1980:12)
7-“Ele era um menino impossível!” (1980:13)
As ilustrações do próprio autor demonstram exatamente o que diz o texto, O Menino Maluquinho aparece com traços de olhar maroto e arteiro com a língua de fora numa expressão maliciosa (1), na pagina seguinte um grande olho representa sua cabeça (2), pois ele tem o olho maior que a barriga, um pavio com fogo na ponta remete a expressão “fogo no rabo” (3) e que literalmente esta pendurado em suas nádegas. Sua agilidade vem representada por asas desenhadas em seus pés (4), suas pernas são representadas de forma exageradas (5), os macaquinhos no sótão estão relacionados a sua imaginação fértil e vem representado na ilustração com macacos na cabeça do menino (6), finalizando a explicação com a junção de todas as ilustrações apresenta uma forma fantástica com os membros e cabeças destorcidas pelas informações dadas pelo autor (7).
Segundo Márcia Tavares Silva[3]:
“...Essas funções compreendem uma percepção de que a ilustração de um texto condensa muitas possibilidades de diálogo entre o que está escrito e a imagem visual, carregando as leituras do texto de significados, narrando as ações usando de metalinguagens visuais ou simplesmente anunciando seu início ou fim. A leitura do elemento visual por parte do leitor infantil compreende uma das possíveis abordagens do texto literário produzido para criança.” (144)
Silva utiliza o estudo de Roman Jakobson para explicar como a linguagem visual é usada no contexto dos livros infantis para produzir significados. No livro de Ziraldo as ilustrações são usadas de acordo com o texto escrito, fazendo uma representação das palavras conforme estão dispostas no texto, totalmente voltadas para a significação e compreensão do imaginário infantil e como se os desenhos fossem produzidos por uma mente infantil, no ato da leitura.
Ziraldo brinca com o imaginário infantil pensando como uma criança, no decorrer do livro aparecem ainda beijinhos e corações vermelhos como modo de imaginação do menino, durante todo o livro as figuras mostram o desenvolvimento de uma criança e sua imaginação, problemas cotidianos, brincadeiras infantis, divertimentos com a escola retratando a alegria do aprender e das descobertas da infância.
Ziraldo ainda utiliza símbolos da realidade e personagens criados por ele para valorizar a importância da leitura e da brincadeira. O livro trás ilustrações de varias crianças para representar o adulto que se tornou o menino, todas com expressão feliz e sorridente, embora os trajes sejam de um adulto responsável e sério na representação da gravata.
Vimos então que O Menino Maluquinho é construído a partir de sua própria imaginação infantil como sugere Zilberman[4]: “ O Menino Maluquinho constrói-se, pois, a partir do ângulo da imagem figurativa do herói, estando cada pagina dedicada a um recorte de seu cotidiano.”(2005:156)
Arriscamos uma ousada interpretação de que O Menino Maluquinho nada mais é que uma autobiografia da infância de Ziraldo, mas isso é tema para um próximo trabalho.
BIBLIOGRAFIA
SILVA, Márcia Tavares in Brincar com as palavras e imagens.
ZILBERMAN,Regina. A Literatura Infantil Brasileira in Quando fala a ilustração. Rio de Janeiro
. Objetiva,2005.
ZIRALDO. O Menino Maluquinho. São Paulo. Melhoramento, 1980.
* Acadêmica do Curso de Letras na Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Projeto Parceladas
[1] ZILBERMAN,Regina. A Literatura Infantil Brasileira, in Quando fala a ilustração. Rio de Janeiro.Objetiva.2005
[2] ZIRALDO. O Menino Maluquinho.São Paulo: Melhoramentos,1980.
[3] SILVA, Márcia Tavares, in Brincar com as palavras e imagens
[4] Idem ao 1
Leodineia Gisete Bocato *
“O Menino Maluquinho não parece tão inovador, pois Ziraldo emprega seu traço característico em figura desenhada em preto sobre o fundo branco, onde coloca o texto”(2005:156)[1]
O livro O Menino Maluquinho de Ziraldo Alves Pinto, embora não apresente uma novidade nas ilustrações se transforma em fenômeno da literatura infantil em 1980 consagrando seu autor.
Ziraldo nasce em 1932 na cidade de Caratinga Minas Gerais, formo-se em Direito na faculdade de Direito de Minas Gerais em Belo Horizonte. O “mineirinho” Ziraldo em 1980 lança O Menino Maluquinho na Bienal do livro de São Paulo, como Zilberman, assinala as ilustrações de Ziraldo mantêm seu traço característico, desenhos pretos sobre o branco com exceção a capa em que O Menino Maluquinho traja roupas e sapatos coloridos, traz marcas nas bochechas como se representando uma expressão de alegria e vida saudável, traz também uma panela na cabeça que é sua marca como herói.
Na entre capa Ziraldo concebe uma ilustração com varias crianças e personagens criadas por ele, todos com expressão de felicidade.
No decorrer do livro Ziraldo[2] apresenta um menino que embora não tenha nome próprio se distingue dos demais pelo uso do artigo “O”. A construção da personagem busca um entrosamento da ilustração ajudando na compreensão e aguçando o imaginário infantil, como exemplo, vemos a apresentação do menino e suas qualidades representadas nas ilustrações:
1-“Era uma vez um menino maluquinho”(1980:07)
2-“Ele tinha o olho maior que a barriga” (1980:08)
3-“Tinha fogo no rabo” (1980:09)
4-“Tinha vento nos pés” (1980:10)
5-“Umas pernas enormes
(Que davam para abraçar o mundo)” (1980:11)
6-“E macaquinhos no sótão
(embora nem soubesse o que
Significava macaquinho no sótão)”(1980:12)
7-“Ele era um menino impossível!” (1980:13)
As ilustrações do próprio autor demonstram exatamente o que diz o texto, O Menino Maluquinho aparece com traços de olhar maroto e arteiro com a língua de fora numa expressão maliciosa (1), na pagina seguinte um grande olho representa sua cabeça (2), pois ele tem o olho maior que a barriga, um pavio com fogo na ponta remete a expressão “fogo no rabo” (3) e que literalmente esta pendurado em suas nádegas. Sua agilidade vem representada por asas desenhadas em seus pés (4), suas pernas são representadas de forma exageradas (5), os macaquinhos no sótão estão relacionados a sua imaginação fértil e vem representado na ilustração com macacos na cabeça do menino (6), finalizando a explicação com a junção de todas as ilustrações apresenta uma forma fantástica com os membros e cabeças destorcidas pelas informações dadas pelo autor (7).
Segundo Márcia Tavares Silva[3]:
“...Essas funções compreendem uma percepção de que a ilustração de um texto condensa muitas possibilidades de diálogo entre o que está escrito e a imagem visual, carregando as leituras do texto de significados, narrando as ações usando de metalinguagens visuais ou simplesmente anunciando seu início ou fim. A leitura do elemento visual por parte do leitor infantil compreende uma das possíveis abordagens do texto literário produzido para criança.” (144)
Silva utiliza o estudo de Roman Jakobson para explicar como a linguagem visual é usada no contexto dos livros infantis para produzir significados. No livro de Ziraldo as ilustrações são usadas de acordo com o texto escrito, fazendo uma representação das palavras conforme estão dispostas no texto, totalmente voltadas para a significação e compreensão do imaginário infantil e como se os desenhos fossem produzidos por uma mente infantil, no ato da leitura.
Ziraldo brinca com o imaginário infantil pensando como uma criança, no decorrer do livro aparecem ainda beijinhos e corações vermelhos como modo de imaginação do menino, durante todo o livro as figuras mostram o desenvolvimento de uma criança e sua imaginação, problemas cotidianos, brincadeiras infantis, divertimentos com a escola retratando a alegria do aprender e das descobertas da infância.
Ziraldo ainda utiliza símbolos da realidade e personagens criados por ele para valorizar a importância da leitura e da brincadeira. O livro trás ilustrações de varias crianças para representar o adulto que se tornou o menino, todas com expressão feliz e sorridente, embora os trajes sejam de um adulto responsável e sério na representação da gravata.
Vimos então que O Menino Maluquinho é construído a partir de sua própria imaginação infantil como sugere Zilberman[4]: “ O Menino Maluquinho constrói-se, pois, a partir do ângulo da imagem figurativa do herói, estando cada pagina dedicada a um recorte de seu cotidiano.”(2005:156)
Arriscamos uma ousada interpretação de que O Menino Maluquinho nada mais é que uma autobiografia da infância de Ziraldo, mas isso é tema para um próximo trabalho.
BIBLIOGRAFIA
SILVA, Márcia Tavares in Brincar com as palavras e imagens.
ZILBERMAN,Regina. A Literatura Infantil Brasileira in Quando fala a ilustração. Rio de Janeiro
. Objetiva,2005.
ZIRALDO. O Menino Maluquinho. São Paulo. Melhoramento, 1980.
* Acadêmica do Curso de Letras na Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Projeto Parceladas
[1] ZILBERMAN,Regina. A Literatura Infantil Brasileira, in Quando fala a ilustração. Rio de Janeiro.Objetiva.2005
[2] ZIRALDO. O Menino Maluquinho.São Paulo: Melhoramentos,1980.
[3] SILVA, Márcia Tavares, in Brincar com as palavras e imagens
[4] Idem ao 1
sábado, 26 de junho de 2010
LILITH ESCARLATE CAPITULO I
O amanhã chegou e com ele um calor infernal, como todo verão nessa região, incrível, como a cada ano as matas parecem mais quente e imponente, menos acolhedora. As folhas balançam e exalam um cheiro de sol, misturado com a poeira fina da estrada de chão batido. As nuvens se movimentam rápido e o calor insuportável faz os animais rasteiros se esconderem no meio das folhas secas espalhadas pelo seco chão.
- Acho que sou como esses animais, ao menos, me sinto assim, escondida num fim de mundo sem ter para onde correr. O que eu estou fazendo num lugar desses, isso é o fim do mundo? Lilith pensa alto.
Lilith já caminhava há quase uma hora, dois quilômetros separava o posto e escola indígena da cidade, a estrada vermelha de chão batido mostrava um horizonte de miragem, imagens turvas, um brilho excessivo a sua frente, e a paisagem dançando, provocando náuseas, ou seria a sede ou ainda a vontade de chegar logo, quem sabe ainda o arrependimento de ter aceitado o emprego.
- Onde já se viu eu professora e ainda por cima de índio!!! Só eu mesmo, já estou começando a acreditar no que dizem, devo ser louca, não louca não, louca de pedra, não, ainda é pouco, louca de Muchu Picho, acho que lá tem muita pedra... Bom seria eu ir para lá mesmo... Esperam que já tenham feito o café...
- Acho que sou como esses animais, ao menos, me sinto assim, escondida num fim de mundo sem ter para onde correr. O que eu estou fazendo num lugar desses, isso é o fim do mundo? Lilith pensa alto.
Lilith já caminhava há quase uma hora, dois quilômetros separava o posto e escola indígena da cidade, a estrada vermelha de chão batido mostrava um horizonte de miragem, imagens turvas, um brilho excessivo a sua frente, e a paisagem dançando, provocando náuseas, ou seria a sede ou ainda a vontade de chegar logo, quem sabe ainda o arrependimento de ter aceitado o emprego.
- Onde já se viu eu professora e ainda por cima de índio!!! Só eu mesmo, já estou começando a acreditar no que dizem, devo ser louca, não louca não, louca de pedra, não, ainda é pouco, louca de Muchu Picho, acho que lá tem muita pedra... Bom seria eu ir para lá mesmo... Esperam que já tenham feito o café...
sexta-feira, 25 de junho de 2010
LILITH ESCARLATE PARTE I - INTRODUÇÃO
Às vezes fico pensando em como começar a escrever, isso parece delírio, mas quem não é louco e às vezes não mergulha profundamente nos delírios deixando a mente insana comandando os sentimentos e as sensações.
Esse papo de loucura me deixa louca... Ambíguo não?
O fato é que sentei para te dizer, sei lá, acho que para escrever... Estou confusa... Será sinal de minha loucura? Incrível!Bom o fato é que toda vez que você entra nesta sala, e começa a cantar e como uma grande enxurrada que corre derrubando minha sanidade, minhas emoções, é difícil admitir, mas ainda sou fogo de paixão por você, quando eu ouço sua voz é como o fogo me queimasse profundamente, uma gota de suor desce pelo meu pescoço e eu delírio. Já faz tanto tempo, são quinze anos e essa tortura não acaba, e o mais engraçado é que nós dois sabemos que jamais, eu disse jamais, isso dará certo, por causa do seu desamor por mim, agora fiquei em dúvida, será que algum dia me amou... Loucura ir tão longe... Será que ao menos me desejou? Como não sei a resposta melhor deletar e nunca enviar esta carta... Tenho medo de uma resposta que jogue um balde de água fria e apague este fogo... Ou ainda pior, torne minha melancolia e tristeza de uma perda em ódio mortal... Acho que estou mesmo enlouquecendo... Esses pensamentos já são obsoletos, o tempo passou como ave de rapina a procura da presa... Estou... vou delet...
Esse papo de loucura me deixa louca... Ambíguo não?
O fato é que sentei para te dizer, sei lá, acho que para escrever... Estou confusa... Será sinal de minha loucura? Incrível!Bom o fato é que toda vez que você entra nesta sala, e começa a cantar e como uma grande enxurrada que corre derrubando minha sanidade, minhas emoções, é difícil admitir, mas ainda sou fogo de paixão por você, quando eu ouço sua voz é como o fogo me queimasse profundamente, uma gota de suor desce pelo meu pescoço e eu delírio. Já faz tanto tempo, são quinze anos e essa tortura não acaba, e o mais engraçado é que nós dois sabemos que jamais, eu disse jamais, isso dará certo, por causa do seu desamor por mim, agora fiquei em dúvida, será que algum dia me amou... Loucura ir tão longe... Será que ao menos me desejou? Como não sei a resposta melhor deletar e nunca enviar esta carta... Tenho medo de uma resposta que jogue um balde de água fria e apague este fogo... Ou ainda pior, torne minha melancolia e tristeza de uma perda em ódio mortal... Acho que estou mesmo enlouquecendo... Esses pensamentos já são obsoletos, o tempo passou como ave de rapina a procura da presa... Estou... vou delet...
quinta-feira, 24 de junho de 2010
AUTOPSICOGRAFIA
O POETA É UM FINGIDOR.
FINGE TÃO COMPLETAMENTE
QUE CHEGA A FINGIR QUE É DOR
A DOR QUE DEVERAS SENTE.
E OS QUE LÊEM O QUE ESCREVE,
NA DOR LIDA SENTEM BEM,
NÃO AS DUAS QUE ELE TEVE,
MAS SÓ A QUE ELES NÃO TEM.
E ASSIM NAS CALHAS DE RODA
GIRA, A ENTRETER A RAZÃO,
ESSE COMBOIO DE CORDA
QUE SE CHAMA CORAÇÃO.
(FERNANDO PESSOA. OBRA POETICA. Rio de Janeiro ; Cia. José Aguilar Editora)
FINGE TÃO COMPLETAMENTE
QUE CHEGA A FINGIR QUE É DOR
A DOR QUE DEVERAS SENTE.
E OS QUE LÊEM O QUE ESCREVE,
NA DOR LIDA SENTEM BEM,
NÃO AS DUAS QUE ELE TEVE,
MAS SÓ A QUE ELES NÃO TEM.
E ASSIM NAS CALHAS DE RODA
GIRA, A ENTRETER A RAZÃO,
ESSE COMBOIO DE CORDA
QUE SE CHAMA CORAÇÃO.
(FERNANDO PESSOA. OBRA POETICA. Rio de Janeiro ; Cia. José Aguilar Editora)
POR EDUCAÇÃO PERDI MEU AMOR PARTE II
Isso me parece chocante... mas também engraçado.
Sei lá no fundo eu vejo os outros, mas não consigo ver a mim mesma, jamais consegui fazer uma descrição de mim mesma... sou o fundo de uma figura...
A boa educação, a moral, a idoneidade, a responsabilidade a integridade, tudo isso sempre levado em conta, mas no mais profundo desejo de minha alma... não é isso que quero pra mim..
Não sei só sei que por educação te deixei...
Por educação não consegui lhe falar o quanto você era importante para mim, um troféu de vitória sobre mim mesma..
Por educação eu não vivi, não chorei, não me desesperei...
E agora que vejo que te perdi, por educação, saio de cena, e não me dirijo a você como ainda tenho vontade...
Por educação te deixo ir, e por educação fico só...vazia, esperando aparecer outro alguém e ocupe seu lugar ...e por educação eu perca novamente...
Ou então quem sabe um dia eu deixo a educação de lado e vivo meu intenso amor , que fica guardado só para mim...Será educação ou Egoismo?
Sei lá no fundo eu vejo os outros, mas não consigo ver a mim mesma, jamais consegui fazer uma descrição de mim mesma... sou o fundo de uma figura...
A boa educação, a moral, a idoneidade, a responsabilidade a integridade, tudo isso sempre levado em conta, mas no mais profundo desejo de minha alma... não é isso que quero pra mim..
Não sei só sei que por educação te deixei...
Por educação não consegui lhe falar o quanto você era importante para mim, um troféu de vitória sobre mim mesma..
Por educação eu não vivi, não chorei, não me desesperei...
E agora que vejo que te perdi, por educação, saio de cena, e não me dirijo a você como ainda tenho vontade...
Por educação te deixo ir, e por educação fico só...vazia, esperando aparecer outro alguém e ocupe seu lugar ...e por educação eu perca novamente...
Ou então quem sabe um dia eu deixo a educação de lado e vivo meu intenso amor , que fica guardado só para mim...Será educação ou Egoismo?
quarta-feira, 23 de junho de 2010
CONTO "POR EDUCAÇÃO PERDI MEU AMOR" (UM DESBAFO POÉTICO) PARTE I
Não sei quem disse essa frase, só sei que ela ressoa em minha mente...em meu coração...em meu corpo todo...
Tentei ao máximo estar com você meu grande amor. mas o que não consegui foi justamente isso...
Por educação fui cada vez mais me afastando de você...
Culpa da mente que não conseguiu raciocinar e transmitir as palavras que brotavam do coração... também da boca que não conseguiu vomitar as palavras que sufocavam, mas impertinente se abria para dizer coisas sem importancia, que naquele, momento não faziam sentido.
Camuflei, disse coisas que não acredito, acreditei em tudo o que se passou na mente, menos na unica coisa que deveria acreditar, que estava mentindo para mim mesma.
Acho que no fundo não queria te impressionar, mas só queria me impressionar.
É coisa de mim para mim, coisas de um tipo de educação que encucam na gente.Talvez seja mesmo puro medo, medo de mostrar o que sou e ficar tão vunerável quanto as pessoas que conheço, olho para as pessoas e vejo através delas, vejo as fragilidades, sei o que pensam e como agem, tenho medo que me dispam tirem a máscara e me revelem... fraca.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
EBULIÇÃO VITAL VERBAL
VITAL VERBAL
Viver, sofrer, sorrir...
Buscar, encher, derramar...
Entrar, crescer, descer...
Saciar, rever...partir.
Amar, esconder, desistir.
Agonizar, perder, insistir.
Viver, viver, viver...
Acariciar, esquecer, seduzir...
Calar, proceder, agir...
Consultar, entender, sumir...
Conquistar, depreender... seguir.
Vadiar, viver, intervir.
Engenhar, esquivar, invadir.
Aflorar, aflorar, aflorar...
Caminhar, crescer, impedir...
Escutar, mexer, refletir...
Olhar, reverter, inferir...
Pensar, exercer... discernir.
Arrastar, merecer, desistir.
Parar, gemer, pedir.
Morrer, morrer, morrer...
Haverá, será... descobrirá
Andará, precisará...descansará
Ancorará, persistirá... duvidará
Chorará, gritará... sorrirá
Amargará, persistirá... desistirá
Persistirá, arrependerá... continuará
Buscará, buscará, buscará...
Encontrará, arrependerá, satirizará...
Duvidará, persistirá, descansará...
Cansará, repensará, dormirá...
Acordará, duvidará, prosseguirá...
Buscará, perderá, esbravejará...
Acalmará, amará... conhecerá...
Navegará, navegará, navegará...
AUTORA LÉO BOCATO
Viver, sofrer, sorrir...
Buscar, encher, derramar...
Entrar, crescer, descer...
Saciar, rever...partir.
Amar, esconder, desistir.
Agonizar, perder, insistir.
Viver, viver, viver...
Acariciar, esquecer, seduzir...
Calar, proceder, agir...
Consultar, entender, sumir...
Conquistar, depreender... seguir.
Vadiar, viver, intervir.
Engenhar, esquivar, invadir.
Aflorar, aflorar, aflorar...
Caminhar, crescer, impedir...
Escutar, mexer, refletir...
Olhar, reverter, inferir...
Pensar, exercer... discernir.
Arrastar, merecer, desistir.
Parar, gemer, pedir.
Morrer, morrer, morrer...
Haverá, será... descobrirá
Andará, precisará...descansará
Ancorará, persistirá... duvidará
Chorará, gritará... sorrirá
Amargará, persistirá... desistirá
Persistirá, arrependerá... continuará
Buscará, buscará, buscará...
Encontrará, arrependerá, satirizará...
Duvidará, persistirá, descansará...
Cansará, repensará, dormirá...
Acordará, duvidará, prosseguirá...
Buscará, perderá, esbravejará...
Acalmará, amará... conhecerá...
Navegará, navegará, navegará...
AUTORA LÉO BOCATO
POESIA ENGRAÇADINNHA DA PALAVRA
PALAVRINHAS...
São engraçadas, engraçadinhas!
Quando se fala em síntese
Elas ficam...
Teimosas, teimosinhas!
As do Mauri teimam em não sair
De Bernadete só pensam em se repetir
Da Ana, Aninha coitadinha!
Parecem não ter fim
As da Célia que confusão!
Ficam na cabeça em ebulição
Eu tento escutar o que o papel
Tenta me dizer, mas ai...
Que tristeza, tristezinha!
Estou surda, surdinha...
Cega, ceguinha...
Bem perdidinha!
Não consigo dar o laço da amarração...
E aí, que coisa! Mas que confusão!
Parece só embromação.
E a síntese...
Fica sem terminação...
Por culpa das palavras, palavrinhas, sempre, sempre teimosinhas!
AUTORA LEO BOCATO (ESCRITA NA GRADUAÇÃO NUMA AULA TEDIOSA)
São engraçadas, engraçadinhas!
Quando se fala em síntese
Elas ficam...
Teimosas, teimosinhas!
As do Mauri teimam em não sair
De Bernadete só pensam em se repetir
Da Ana, Aninha coitadinha!
Parecem não ter fim
As da Célia que confusão!
Ficam na cabeça em ebulição
Eu tento escutar o que o papel
Tenta me dizer, mas ai...
Que tristeza, tristezinha!
Estou surda, surdinha...
Cega, ceguinha...
Bem perdidinha!
Não consigo dar o laço da amarração...
E aí, que coisa! Mas que confusão!
Parece só embromação.
E a síntese...
Fica sem terminação...
Por culpa das palavras, palavrinhas, sempre, sempre teimosinhas!
AUTORA LEO BOCATO (ESCRITA NA GRADUAÇÃO NUMA AULA TEDIOSA)
NOITE KAMIKASE
NOITE E O PASSADO
TRISTE, FRIO, SOMBRIO... AMANTE
FUROR EXALANDO DO CORPO
OLHOS PERDIDOS
LEMBRANÇAS
DOIS... IGUAIS A UM
O TODO
UM PRESENTE OUTRO AUSENTE
REFLETIDO NO FUNDO DO OLHO
PERDIDO
DO AMOR
NA VIDA
NA ESTRADA A PASSEIO
EMBORA ANDANDO
SEMPRE ESPERANDO
TENTANDO ALCANÇAR A SOLIDÃO
QUENTE DO CORPO
A GOTA DE SUOR, CACHOEIRA CRISTALINA...
BAILAR DA LAGRIMA
REFRESCA, EXCITA...
ESCORRE E MORRE
COMO A LUZ DE MINHA ALMA
SUSPIRO FINAL
AGONIZANTE, PERCO – ME
NO LABERINTO DE LOUCURA
BOCA SEDENTA
BEIJO...
BOCA SEQUIOSA
LINGUA QUENTE
PENSAMENTOS
ARDENTES, REVOLTAS ONDAS VERMELHAS...
KAMIKASES NA NOITE
VIDA E MORTE
FORÇA
MÃO PERDIDA
DA NOITE VAZIA... TRISTE...NOITES SUICIDAS...
TRISTE, FRIO, SOMBRIO... AMANTE
FUROR EXALANDO DO CORPO
OLHOS PERDIDOS
LEMBRANÇAS
DOIS... IGUAIS A UM
O TODO
UM PRESENTE OUTRO AUSENTE
REFLETIDO NO FUNDO DO OLHO
PERDIDO
DO AMOR
NA VIDA
NA ESTRADA A PASSEIO
EMBORA ANDANDO
SEMPRE ESPERANDO
TENTANDO ALCANÇAR A SOLIDÃO
QUENTE DO CORPO
A GOTA DE SUOR, CACHOEIRA CRISTALINA...
BAILAR DA LAGRIMA
REFRESCA, EXCITA...
ESCORRE E MORRE
COMO A LUZ DE MINHA ALMA
SUSPIRO FINAL
AGONIZANTE, PERCO – ME
NO LABERINTO DE LOUCURA
BOCA SEDENTA
BEIJO...
BOCA SEQUIOSA
LINGUA QUENTE
PENSAMENTOS
ARDENTES, REVOLTAS ONDAS VERMELHAS...
KAMIKASES NA NOITE
VIDA E MORTE
FORÇA
MÃO PERDIDA
DA NOITE VAZIA... TRISTE...NOITES SUICIDAS...
AUTORA: LÉO BOCATO (24/10/2007)
FLORES CADAVÉRICAS
MULHERES ESQUECIDAS
NOS TRAÇOS FINOS
DA PENA HISTÓRIA
CORPOS FLORENCEM
NOS CEMITÉRIOS DA GUERRA
A VIDA SE APAGA
CADÁVERES SEGUEM EM FRENTE
BOMBAS ILUMINAM
CLAREIAM AINDA MAIS OS CÉUS CLAROS
CADÁVERES PERAMBULAM
MORTOS CAMINHAM
VIVOS PERMANECEM
ESTÁTICOS COBERTOS DE TERRA
CARREGAM SONHOS
PARA O INFINITO DA MORTE
CADAVERES ANDANTES
NÃO TRAZEM SONHOS
CAMINHAM VAZIOS
ESPERANÇAS PERDIDAS OLHOS FECHADOS
CAMINHAM PERDIDOS
DESPIDOS, CAÍDOS ANJOS DO CÉU.
SE DIZEM VIVOS
CADAVERES PERDIDOS SEM CORAÇÃO
PEITOS RASGADOS
FORÇA PERDIDA, MENTES VAZIAS.
CORAÇÕES RESSECADOS
TRANSPASSADOS PELA LANÇA DO DESAMOR
TRISTEZA
SOLIDAO DE CADAVERES VIVOS
MORTOS QUE ESPERAMQUE UM DIA VIDA CHEGUE
AUTORA: LÉO BOCATO 07/11/2007
NOS TRAÇOS FINOS
DA PENA HISTÓRIA
CORPOS FLORENCEM
NOS CEMITÉRIOS DA GUERRA
A VIDA SE APAGA
CADÁVERES SEGUEM EM FRENTE
BOMBAS ILUMINAM
CLAREIAM AINDA MAIS OS CÉUS CLAROS
CADÁVERES PERAMBULAM
MORTOS CAMINHAM
VIVOS PERMANECEM
ESTÁTICOS COBERTOS DE TERRA
CARREGAM SONHOS
PARA O INFINITO DA MORTE
CADAVERES ANDANTES
NÃO TRAZEM SONHOS
CAMINHAM VAZIOS
ESPERANÇAS PERDIDAS OLHOS FECHADOS
CAMINHAM PERDIDOS
DESPIDOS, CAÍDOS ANJOS DO CÉU.
SE DIZEM VIVOS
CADAVERES PERDIDOS SEM CORAÇÃO
PEITOS RASGADOS
FORÇA PERDIDA, MENTES VAZIAS.
CORAÇÕES RESSECADOS
TRANSPASSADOS PELA LANÇA DO DESAMOR
TRISTEZA
SOLIDAO DE CADAVERES VIVOS
MORTOS QUE ESPERAMQUE UM DIA VIDA CHEGUE
AUTORA: LÉO BOCATO 07/11/2007
VITAL VERBAL
Viver,
Às vezes nos parece somente sofrer,
Mas, quando podemos ver uma criança sorrir...
È hora de buscar,
Encher, o coração de esperança
Derramar... Lágrimas
Entrar em delírio,
Crescer a alma,
Descer... Ao ponto de atingir o centro do ser
Saciar os desejos, rever... Conceitos
Partir, em busca de amar puramente sem intenções,
Esconder as fraquezas,
Desistir de ser aparências
Agonizar, perder os sentidos,
Insistir em único objetivo:
Viver, viver, viver...
Acariciar a mente,
Esquecer os males sofridos,
Seduzir... A si mesmo
Calar quando se deve falar,
Proceder, agir...
Consultar, entender, sumir...
Conquistar, depreender... Seguir.
Vadiar, viver, intervir.
Engenhar, esquivar, invadir.
Aflorar, aflorar, aflorar...
Caminhar, crescer, impedir...
Escutar, mexer, refletir...
Olhar, reverter, inferir...
Pensar, exercer... discernir.
Arrastar, merecer, desistir.
Parar, gemer, pedir.
Morrer, morrer, morrer...
Haverá, será... descobrirá
Andará, precisará...descansará
Ancorará, persistirá... duvidará
Chorará, gritará... sorrirá
Amargará, persistirá... desistirá
Persistirá, arrependerá... continuará
Buscará, buscará, buscará...
Encontrará, arrependerá, satirizará...
Duvidará, persistirá, descansará...
Cansará, repensará, dormirá...
Acordará, duvidará, prosseguirá...
Buscará, perderá, esbravejará...
Acalmará, amará... conhecerá...
Navegará, navegará, navegará...
AUTORA: LÉO BOCATO : 01/02/07
CONTO: DESTINO
As coisas não têm sido fáceis... pensava que me afastando te esqueceria mais facilmente... ledo engano...
Agora me lembro muito mais que antes... Fico ansiosa para te encontrar e nem mesmo sei o que falar... Idiotice a minha... sonho com o dia que te encontrarei..., mesmo que não tenha o que dizer..., tenho certeza que nos comunicaremos..., com gestos ou quem sabe um olhar que seja...
Os anos se passaram...
Já são quase nove...
A memória continua fresca e clara..., sinto os cheiros...,
O toque do vento morno da noite que te conheci...
Cerro os olhos e as imagens bailam em minha mente... no meu corpo todo..., como se eu bailasse com elas... Lembranças.
O céu continua estrelado... minha alma esta hoje um pouco apagada... opaca... sobrevivendo... mergulhada nas lembranças... incertezas ter ou não... tomado decisões acertadas...
Quase nove anos se passaram...
Ou devo dizer somente oito... hoje... noite indecisa de março... tão diferente da noite brilhante, redonda e quente de novembro em que nos encontramos casualmente... ficando ligada a você para a eternidade...
Não consigo te esquecer um só segundo... seu reflexo está no espelho dos meus olhos e na imensidão de minha saudade...
...
- O que você vai fazer hoje?
- Não sei, o que tem para gente fazer, to meio cansada... acho que de não fazer nada legal, nem encontrar ninguém diferente pra conversar.
- Tem uns amigos do Beatle que vão chegar... você podia vir com a gente na Seresta, para fazer companhia, a Vivi vai. Cadê a Linn?
- Ta na fazenda, vou pra lá amanhã à tarde.
- Então vamos sair hoje, vai ser bom...
- Legal... quem sabe eu vou... vou pensar.
- Pensar nada, a gente te pega ás 10...
- Não precisa, vou sozinha e encontro vocês na churrascaria.
- Te espero até as 10 se você não for, vou te buscar, vê lá em!
- Tá bom... eu vou... quem sabe me distraio, a Linn e o trabalho tem tomado meu tempo... tchau...
...
Deveria ter corrido deste convite...
Já estava cansada do trabalho... fraldas... mamadeiras... passeios...cadernos... caneta... P... F... média...exercícios... giz... apagador... explicações... verbos... risadas...
Quase seis horas da tarde... calor infernal... cerveja gelada me faria descansar mais depressa naquela sexta-feira... dia de Todos os Santos... véspera de Finados... devia ter entrado no clima... previsto minha sentença... perdida no infinito do universo... morte...
Arrumei-me displicentemente... vestido laranja de fivela na cintura baixa... cabelos molhados... sandália confortável... dançar se o papo fosse maçante...
Os amigos do Beatle deveriam ser velhos como ele... de cabeça branca... legal... mas eu...“só tenho 24 anos, pode faltar papo...” pensei enquanto fechava a porta.
Caminhei pela rua... desci a ladeira de chão batido... iluminada pela lua e as estrelas...
Escutei ao longe o som do ritmo quente... forró...“Quando será que teremos energia 24 horas...” avistei a churrascaria e a agitação... lotado... Mary e Vivi em uma mesa perto da clareira que servia de pista de dança... Já estavam bebendo e falando alto...
- Olá!
- Já ia te buscar, você estava demorando.
- Ainda é cedo...
- Esse aqui é o Luiz e este é o Vincente, trabalham com o Beatle...
- Oi, sou Lilith, muito prazer.
- Senta aqui.
- Obrigada, a festa tá animada heim.
- Tá! Mais aqui é muito quente.
- É, seu nome é? desculpe o som estava alto, não entendi direito.
- Vincente, você é Lilith né, você trabalha com a Mary?
Só acenei a cabeça em resposta. Já estava com o copo de cerveja nos lábios.
Talvez seria este o momento... deveria escapar... mas não senti perigo... nem um arrepio... uma premunição não... fui ingênua... não percebi a armadilha...
Tarde demais...
- É a primeira vez que você vem ao Xingu?
- Sim, cheguei há pouco tempo... Me formei agora...
- Formou em que?
- Veterinária. Você é casada?
- Não, mas tenho uma filha a Linn. Dodói do Beatle. E você?
- Sou noivo... Não adianta mentir a marca da aliança sempre aparece.
- Mentir não é bom, pra ninguém...
A mentira só dói quando se descobre a verdade... quando já é tarde demais... Dançamos... bebemos... conversamos... sorrimos... brincamos... bebemos... bebemos... o dia amanheceu... tão rápido... tempo passou... tudo parece confuso... não sei se pela alegria do momento ou pelo efeito do “bebemos”...
No clarear do dia... a melhor sensação que pude viver... o gosto mais gostoso... a maciez dos lábios mais gostosos... tocaram os meus... O beijo ...
O toque das mãos nos meus ombros... o acariciar dos meus cabelos... o toque na minha pele... um choque elétrico a percorrer o meu corpo... uma angustia de morte... a explosão da vida como a luz que começava a raiar o dia...
Exaustão...
- Você vai ao lançamento da campanha?
- Que horas será?
- Ás oito...
- Só dá tempo de tomar um banho, já é quase sete...
- Eu passo pra te pegar.
- Ta, onde vai ser?
- Na fazenda.
- Ta bom...
O destino me deu mais uma chance de fugir... já era tarde... sem saber a semente já havia sido lançada... estava envolvida em êxtase...
A água descia pelo meu corpo me deixando desperta... lavando o cansaço da noite suicida... tirando o sono que pesava nas pálpebras dos meus olhos... meu corpo reagia... minha mente... só desejava ter mais alguns instantes de companhia... Essa foi minha perdição...
O carro parou... entrei... mal nos falamos... nos despedimos... um simples “tchau”... intuição de novo falhou... ele se foi para o descanso do seu lar... pude finalmente dormir...
Um apagamento temporal... Esqueci das coisas boas daquela noite... por medo de querer mais... de acordar no meio da noite e desejar fazer de novo... ver que foi apenas uma aventura... de novo estava sozinha... comecei um mergulho em águas turvas...
Ele voltou tão rápido quanto partiu... uma semana depois... com uma novidade maravilhosa...
-Virei aqui a cada quinze dias... vou trabalhar aqui perto... poderei te ver sempre...
De repente me dei conta de como senti saudades dele, que ansiei todas as noites pelo seu beijo... pelo seu toque... dessa vez não teve festa ficamos os dois sozinhos trocando carinhos e planos de encontros...
- Hoje não dá para dormirmos juntos Vincente, deixa para a próxima vez.
- Porque?
Porque uma afirmação sempre vem seguida de uma pergunta... e a resposta sempre é em vão... no momento de prazer... nada que é dito é entendido...
O aviso foi em vão... Deixei-me envolver pelas caricias... Esqueci-me da situação. Mais uma noite... maravilhosa e estrelada... em que só importava o céu visto da janela aberta... mais vagarosamente conheci a fronteira do céu com o inferno... pois eles são divididos por uma parede e meia, bem fina...
Senti um estremecimento na hora de sua partida... meu coração sentiu um arrepio de gelo, minha cabeça agitou-se num misto de alegria e desespero pelo reencontro. Os dias demoraram a passar... grilos começaram a incomodar minha cabeça... meus pensamentos... meus estomago ficou pesado e minha boca amargou...
Contei para o Beatle minha alegria, e as promessas de reencontro.
A verdade então apareceu...
- Ele é casado e tem uma filha.
Senti ódio... vontade de matá-lo... a verdade dói... maltrata... principalmente quando não se pode remediar. Mas a vingança pode ser saborosa... um novo namorado... aquele que já estava me paquerando... mais era tão novinho... só esperarei quinze dias... e o ferirei como ele me feriu.
Decisões erradas...
Problemas para a vida toda...
No dia marcado... um encontro marcado... destinos mudados...
Uma companhia e a agonia...Vê-lo e ouvi-lo circulando minha casa implorando para se explicar...e eu com o gatinho trocando falsos carinhos... fazendo-o acreditar que por um momento eu iria amá-lo... Decisão errada... escolha infeliz... o bem já estava feito... e eu ingênua pensei que podia me salvar de um amor que era impossível... o medo não deixou que eu pudesse ser feliz... o pecado estava personificado em mim a destruidora de lares... assumi toda a culpa e fugi... resolvi assumir todas as conseqüências sozinha. Me escondi...Não deixei que ele me visse mais...
...
Um ano... um reencontro... de longe...brincando...
Tristeza e a incerteza de ter feito a coisa certa... será que agi corretamente?
Na rodoviária... surpresa... seis horas da manhã... uma mão em meu ombro... um toque... Fez-me arrepiar... não precisei virar para reconhecer... cerrei os olhos... viajei nas lembranças... em minhas tristezas de solidão.
...
- Oi...
- Oi...Tudo bem?
- Vim trazer uma encomenda para você levar...
- Como você sabia que eu iria hoje.
- O Beatle ligou...
- Bom...
...
- E o bebê?
- Menino...nasceu em agosto... tem três meses, quase quatro... olhos azuis...Tenho foto... esta na mala não dá para tirar...
Vi tantas perguntas no fundo de seus olhos azuis... ficaram apenas no silêncio de nós dois sentados lado a lado num banco de rodoviária...
* LÉO BOCATO :Conto escrito em 16/03/2006 concluído às 1:40 (madrugada solitária)
CONTO: CONTACTO
O verde rodando, a girar, a girar...
Rodopiam as folhas com raios claros, solares, a entrar em suas brechas e a iluminar meus olhos, rosto e a alma toda...
As narinas dilatadas para captar os aromas da mata fechada cortada por uma estrada que não tem mais fim, cheiros de menta, misturados ao almiscarado dos animais, e a madeira com as seivas a escorrer provocando uma mistura que entorpece...
Vultos cruzam brechas iluminadas, a música confusa dos pássaros alvoroçados se misturam aos sons de folhas a balançar, que se tocam e promovem um som sensual, como o de roçar de peles.
O vento enlaça os galhos que estalam delicadamente, assemelhando-se a beijos trocados em surdina, pequenos insetos cantarolam melodias discretas diferentes, que se aliam uma a outra formando canções que arrepiam a pele e aguçam os ouvidos sensíveis.
O bater das asas das borboletas entorpecem e dissipam os aromas que compõem esse ato, as gotas de orvalho que escorrem das veias sinuosas das folhas e escorrem nas profundezas dos leitos das cascas de troncos envelhecidos até tocarem com delicadeza a terra, que em sua ânsia suga-as para seu interior, como que querendo roubar-lhes o conhecimento de sua trajetória exterior...
E eu aqui parada...
Sem poder me mover e em uma fração de segundo, tudo silencia, a voz humana encobre os sons mágicos.
Só escuto uma voz, uma afirmação e uma pergunta débil:
“Esse trecho de mata na estrada tem um cheiro bom! Não acha?”.
“É...” também é fresco...
Em um quarto de segundo a sinfonia se encerra...
Sons ensurdecedores voltam a povoar o universo.
A grama e o capim que agitados ao vento produzem sons de coisa nenhuma.
A árvore isolada na pastagem grita transloucada a procura de respostas, e espera um toque de caricia em suas folhas, que se agitam em vão ao som de um ruminar de um bovino, que mantém os olhos parados no além, com olhar de vaca preste a ir para o matadouro.
O caminhar desses animais provoca angústia e maltrata a relva que se desespera ao ser devorada...
E o caminho continua adentrando e ocupando o inconsciente que agora se faz de surdo...
Os raios de sol agridem o olhar provocando um despertar...
Será que estava adormecida?
Será que sonhos povoam a mente que não para nem em um cochilar?
Em mundo vivo... como vivo... ou será que estou mesmo surda ou morta...
Na verdade, morta...como a natureza no quadro pintado atrás de mim...
AUTORA: LÉO BOCATO (ESCRITO EM (20/01/2007)
VAMPIROS
EU GOSTARIA QUE FOSSE UMA GRANDE FESTA
MAS AS VEZES PARECE QUE TEMOS MOMENTOS ...
TRISTEZA PROFUNDA...
GOZOS ETERNOS...
COMO SE A MORTE ESTIVESSE CONSTANTE AO NOSSO LADO
VAMPIROS A NOS PERSEGUIR... SEDUÇÃO PERSISTENTE...
A ESPREITA... NOTURNOS SOMBRIOS...
COMO AMORES
UM AMANTE FEROZ
QUE COM DELICADEZA PERCORRE A LINGUA
NO MEU PESCOÇO
SABOREANDO GOTAS DE MEU SANGUE
PURO MEL DA CAMINHADA
PROVOCANDO ARREPIOS, CONTATOS DE 3º GRAU
GEMIDOS DE PRAZER
AVANÇA SUSSURANDO EM MEU OUVIDO, PALAVRAS INIMAGINAVEIS
QUE ME LEVAM A ALUCINAÇÕES...
ACARICIA LEVEMENTE OS SEIO E MINHA PELE...
TOCA PROFUNDO... COMO ESPADA A ME PERFURAR NO INTIMO DO SER
SÓ RESTA ME ENTREGAR...
O ULTIMO SUSPIRO... ENTREGA..
OS OLHOS CERRAM
UM RUIDO GUTURAL DE MINHA GARGANTA ESCAPA
E EIS QUE ENTREGUE EU MORRO...
E COMO FENIX RENASÇO DAS CINZAS...
PARA MORRER DE NOVO EM MINHA CAMINHADA …
(AUTORA: LEO BOCATO (ESCRITO EM 08/03/2009)
MAS AS VEZES PARECE QUE TEMOS MOMENTOS ...
TRISTEZA PROFUNDA...
GOZOS ETERNOS...
COMO SE A MORTE ESTIVESSE CONSTANTE AO NOSSO LADO
VAMPIROS A NOS PERSEGUIR... SEDUÇÃO PERSISTENTE...
A ESPREITA... NOTURNOS SOMBRIOS...
COMO AMORES
UM AMANTE FEROZ
QUE COM DELICADEZA PERCORRE A LINGUA
NO MEU PESCOÇO
SABOREANDO GOTAS DE MEU SANGUE
PURO MEL DA CAMINHADA
PROVOCANDO ARREPIOS, CONTATOS DE 3º GRAU
GEMIDOS DE PRAZER
AVANÇA SUSSURANDO EM MEU OUVIDO, PALAVRAS INIMAGINAVEIS
QUE ME LEVAM A ALUCINAÇÕES...
ACARICIA LEVEMENTE OS SEIO E MINHA PELE...
TOCA PROFUNDO... COMO ESPADA A ME PERFURAR NO INTIMO DO SER
SÓ RESTA ME ENTREGAR...
O ULTIMO SUSPIRO... ENTREGA..
OS OLHOS CERRAM
UM RUIDO GUTURAL DE MINHA GARGANTA ESCAPA
E EIS QUE ENTREGUE EU MORRO...
E COMO FENIX RENASÇO DAS CINZAS...
PARA MORRER DE NOVO EM MINHA CAMINHADA …
(AUTORA: LEO BOCATO (ESCRITO EM 08/03/2009)
POESIA DELIRANTE
COMO NUM TOQUE EM TECIDO DE VELUDO, TE SENTI...
A VOCÊ ME ENTREGUEI SEM MEDO NEM PUDOR.
O CÉU EM POUCOS MOMENTOS NÓS ATINGIMOS...
E LEVITEI DE ALMA INTEIRA...
PRIMEIRO SENTI UMA ANSIA PROFUNDA... QUASE MORTE...
A AGONIA TOMOU CONTA DO MEU CORPO... SOFRI...
NO DESESPERO DE UMA LANÇA A ME ULTRAPASSAR
TOTALMENTE FERIDA ME SENTI... MORTE EMINENTE...
DE REPENTE UMA LUZ BRILHOU NO FUNDO DO MEU SER
E A CLARIDADE ME TROUXE O RISO... E MEU OLHAR SE ENCHEU DE ESPERANÇA.
E VI A GRANDE MAGIA DA VIDA SE REALIZANDO...
E DE NOVO MEU CORAÇÃO SE ENVOLVEU NUM PROFUNDO DESEJO...
DE ME LANÇAR INTEIRAMENTE NO LABINTO DO PRAZER DE VIVER.
(LÉO BOCATO, ESCRITO EM 2002)
A VOCÊ ME ENTREGUEI SEM MEDO NEM PUDOR.
O CÉU EM POUCOS MOMENTOS NÓS ATINGIMOS...
E LEVITEI DE ALMA INTEIRA...
PRIMEIRO SENTI UMA ANSIA PROFUNDA... QUASE MORTE...
A AGONIA TOMOU CONTA DO MEU CORPO... SOFRI...
NO DESESPERO DE UMA LANÇA A ME ULTRAPASSAR
TOTALMENTE FERIDA ME SENTI... MORTE EMINENTE...
DE REPENTE UMA LUZ BRILHOU NO FUNDO DO MEU SER
E A CLARIDADE ME TROUXE O RISO... E MEU OLHAR SE ENCHEU DE ESPERANÇA.
E VI A GRANDE MAGIA DA VIDA SE REALIZANDO...
E DE NOVO MEU CORAÇÃO SE ENVOLVEU NUM PROFUNDO DESEJO...
DE ME LANÇAR INTEIRAMENTE NO LABINTO DO PRAZER DE VIVER.
(LÉO BOCATO, ESCRITO EM 2002)
UM COMEÇO
QUERO COMEÇAR EM GRANDE ESTILO COM FERNANDO PESSOA
FICÇÕES DO INTERLUDIO TEXTO II
O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o custume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o passado essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascerá deveras...
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque eu vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na natureza não é porque sabia o que ela é,
Mas porque a amo, e amo -a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
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