domingo, 11 de julho de 2010

MAIS UM TRECHO DO MEU ROMANCE

LILITH ESCARLATE - CAPITULO II
Há dois meses Lilith aceitará o emprego de professora da Escola Indígena, um projeto piloto, para o ano de 1993, como outros tantos nos novos municípios formados no interior do Mato Grosso. Afinal ali sim, “é terra de índio”.
Ela chegará a pouco mais de um ano logo após o pleibiscito que tornará aquela terra de ninguém em cidade, não se parecia com nenhuma cidade que ela conhecerá antes, não havia ruas, havia trilhas cercadas por capim, havia poucas casas de alvenaria, havia barracos de lona preta, casas de pau-a-pique, prédios então! nem se fala, duas ou três casa de alvenaria e dois prédios públicos: Prefeitura e Câmara Municipal com nove vereadores lagartixas, tudo cercado de mata, e o pior ela nem sabia como havia chegado naquela clareira. Se tivesse que ir embora não saberia o caminho, literalmente ela aterrizará naquele chão.
As pessoas essas sim valiam à pena, simplesmente pessoas sem contaminação pelo progresso. As pessoas daquela localidade eram amigáveis e recebia a todos com igualdade, o jeito simples, e ao mesmo tempo acolhedor.
Nossa heroína chegará cheia de sonhos e planos de recomeço, acabar com o sofrimento que a perseguia desde a infância, ali ela estava com seu pai, tudo o que desejava desde a primeira infância, isso lhe dava forças para continuar, achará seu refugio, seu porto seguro, as coisas começaram a mudar, pelo menos não passava mais fome. Tinha um trabalho, não era mais uma no meio da multidão, era alguém.
- Bom dia! – expressou sem muita animação batendo a poeira das pernas e pés – E o café já tomou? Perguntou ao primeiro grupo de indígenas que encontrou, sentados em uma mesa próxima a cozinha.
- Não, ainda – respondeu um índio da aldeia Panará.
- Tá feito? Prosseguiu Lilith.
- Não?
Meio a contragosto ela acrescentou:
- Então vamos fazer né...
Partiu para a cozinha pensando no atraso da aula, mais um dia que seria mal aproveitado.
O indiozinho Panará se aproxima. E Lilith pergunta:
- Já varreram e molharam a escola.
- Já.
Lilith olhou para o relógio e pensou: - oito e quinze da manhã, já perderá quarenta e cinco minutos de aula – olhou impaciente para a água que não fervia, voltou-se para a porta e olhou com ternura para o índio Panará, que continuava parado na soleira da porta, pensou - será que ele tem ao menos doze anos? – e esboçou um leve sorriso, ela gostava dele, talvez porque a aldeia dele era a mais distante, três dias de barco voadeira descendo o rio, e mais uma hora de carro para chegar à escola, e pior não tinha nenhum parente, ele era único.
Nesse momento Lilith olhou nos olhos do indiozinho e viu... Viu o que ela muitas vezes somente sentiu... Solidão... Abandono... Vontade de ir embora daquele lugar... Sua cabeça doeu como se fosse atingida por um balde de água congelada... Eles se entreolharam por um instante... e ela não soube o que falar, apenas fez um movimento com os lábios como que dizendo: - eu sei... E concordou com um movimento de cabeça. Jogou o pó do café na água e sentiu um cheiro agradável, que a fez sorrir.

Um comentário:

  1. Léo...q show!!! estou me deliciando com seu romance...
    continue sempre!
    me orgulho de ter sido seu professor.
    Espero ter contribuído com sua carreira.
    Já sou seu fã.
    A discipula está superando o mestre.
    beijos

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