LEITURA E ESCRITA E A LEITURA DE MUNDO
Leodineia Gisete Bocato*
... Aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios... (Martins: 2003, p.34)...
Todos os dias nos deparamos com várias situações que nos faz refletir sobre o que é a LEITURA, vários estudos são feitos e os resultados são lentos, mas, progridem.
Faz-se necessário, antes de argumentarmos a respeito da leitura dos alunos que freqüentam as Escolas Estaduais do Mato Grosso[1] – principalmente do interior – definirmos alguns conceitos sobre o que é LEITURA e como se constrói o ato de ler do aluno.
Retomam-se conceitos como de Paulo Freire, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.(2003: p10). Ou ainda conforme Maria Helena Martins[2] “... O leitor pré-existe a descoberta do significado das palavras escritas” (2003: p 11), nos dois autores verifica-se que o individuo produz leitura muito antes de ter contato com palavras escritas propriamente ditas.
Pensando-se neste conceito tentaremos neste artigo lançar um olhar sobre a leitura e a dificuldade que os alunos apresentam na interpretação de textos. A interpretação tem sido um dos maiores desafios dos professores de Língua Portuguesa, pois é comum escutarmos nas salas de professores e outras dependências da escola comentários como: “meu aluno não consegue responder as questões do texto”, “O aluno não consegue passar para o papel sentidos do texto e ou que é pedido” ou ainda: “ao responder as questões o aluno saiu totalmente do ‘rumo’ do que foi pedido”. Esses são alguns dos comentários comuns entre educadores de diversas disciplinas, que por sua vez cobram explicações do professor de Língua Portuguesa (L P), neste caso acham que o professor desta disciplina (L P) conseguirá resolver todos os problemas referentes à leitura, e pior, que tem obrigação de resolvê-los.
Se o aluno vai mal na leitura, escrita e interpretação acredita-se que a culpa é do professor de L P.
Retomando ao conceito de leitura, pode-se dizer que é uma responsabilidade de todos. O aluno quando passa a freqüentar a escola traz consigo um conhecimento o qual aqui chamaremos de ‘leitura de mundo’, conforme Paulo Freire, leitura esta que é por muitas vezes deixada do lado de fora da escola e o ato de ler se torna doloroso e taxativo, nos deparamos com ‘famosas’ frases feitas como “o aluno não sabe de nada”.
Fica excluído o prazer construindo-se estereotipo, o aluno conforme vai aprimorando sua escolarização menos sente prazer em ler, o aluno não consegue perceber a leitura como uma atividade significativa em sua vida e por isso não se interessa por ela, o que causa uma frustração tanto no aluno quanto no professor que na maioria das vezes (sem querer generalizar) acaba abrindo mão das atividades de leitura em sala de aula e fora desta.
Faz-se necessário uma abertura para uma reflexão de como e quando o aluno produz leitura, ou aprende a ler, segundo Coracini[3] (1995: p.19)
“Aprender a ler equivale a descobrir o significado das palavras do texto, a pronunciar corretamente, a localizar os momentos (ou idéias) principais dos textos ali depositados de forma definitiva pela vontade consciente do autor”.
Não pretendemos aqui entrar em níveis e estágios de leitura, mas pode-se dizer que a principal função da escrita é promover uma (inter) relação de sentidos internos (textos) e externos (leitor). A produção de leitura esta relacionada indiretamente com a produção de escrita, e esta ocorre quando o leitor se torna autor.
Após pesquisa recente na Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”, com alunos da 7ª série do período matutino, verifica-se o que realmente ocorre no ambiente escolar é o desencontro entre a leitura proposta e a leitura de gosto do educando.
No levantamento de dados em nenhum momento foi mencionado pelo alunado gosto ou interesse pelos textos trabalhados na escola, o interesse do aluno esta voltado para texto que circulam fora da escola como: revistas televisivas, gibis e outros do tipo e gênero e na maioria das vezes (não generalizando) o professor não consegue se desvincular do aparato didático nas aulas de leitura e produção de escrita volta-se então a ‘velha’ questão: o lugar em que os alunos deveriam compreender, praticar, (re) visitar e revisar torna-se local de conflito e obrigatoriedade, por um lado o educador não vê desenvolvimento do aluno e por outro o educando não quer (ou não sabe) atender as exigências de leitura proposta pela escola.
Pensando nesta temática somos levados a ver, (re) ver a posição dos PCNs, que para “socorrer” o educador apresenta propostas de trabalho com textos de gêneros variados, mas ainda assim há uma resistência por parte do educador em por em pratica esta proposta em sala de aula, no interior do Estado (como disse no início deste artigo) o educador tem como principal reclamação a falta de material para o desenvolvimento da leitura, a maioria alega a falta de biblioteca, relacionando a deficiência a uma macro – estrutura, se esquecendo que o que os alunos gostam de ler textos que circulam em meio ao seu grupo.
Um dos caminhos que pode representar uma mudança no modo de se encarar a leitura e escrita, são os Projetos Didáticos e Temáticos, que não é uma solução “mais fácil”, mas sim requer o envolvimento de todos os professores e principalmente da comunidade escolar, que necessita se mobilizar para resolver o problema e não apenas deixar na responsabilidade para professor de LP, e jamais podemos esquecer que todas as demais disciplinas necessitam da leitura, escrita e interpretação tanto quanto ou mais que Língua Portuguesa.
Deixo para um próximo artigo esse tema sobre Projetos Didáticos e Temáticos, lembrando que o ato de ler existe independente da Escola, basta lembrarmos que o mundo existe e nós existimos nele, vivenciamos experiências que apesar de parecidas são únicas para cada individuo, o aluno não vem para a escola como um “saco vazio”, mas carregado de experiências, vivências e novidades, basta abrirmos a mente e principalmente o coração...
BIBLIOGRAFIA
CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo. 2003.
*Acadêmica do Curso de Letras da UNEMAT – Projeto Parceladas Núcleo de apoio Pedagógico de Confresa - MT
[1] Este artigo baseia-se em pesquisa realizada no Município de São José do Xingu, na Escola Estadual “Antonio Gomes Primo”, pesquisa esta intitulada “Problemas de leitura e escrita dos alunos da 7ª série da Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”.
[2] MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo.2003.
[3] CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
Leodineia Gisete Bocato*
... Aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios... (Martins: 2003, p.34)...
Todos os dias nos deparamos com várias situações que nos faz refletir sobre o que é a LEITURA, vários estudos são feitos e os resultados são lentos, mas, progridem.
Faz-se necessário, antes de argumentarmos a respeito da leitura dos alunos que freqüentam as Escolas Estaduais do Mato Grosso[1] – principalmente do interior – definirmos alguns conceitos sobre o que é LEITURA e como se constrói o ato de ler do aluno.
Retomam-se conceitos como de Paulo Freire, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.(2003: p10). Ou ainda conforme Maria Helena Martins[2] “... O leitor pré-existe a descoberta do significado das palavras escritas” (2003: p 11), nos dois autores verifica-se que o individuo produz leitura muito antes de ter contato com palavras escritas propriamente ditas.
Pensando-se neste conceito tentaremos neste artigo lançar um olhar sobre a leitura e a dificuldade que os alunos apresentam na interpretação de textos. A interpretação tem sido um dos maiores desafios dos professores de Língua Portuguesa, pois é comum escutarmos nas salas de professores e outras dependências da escola comentários como: “meu aluno não consegue responder as questões do texto”, “O aluno não consegue passar para o papel sentidos do texto e ou que é pedido” ou ainda: “ao responder as questões o aluno saiu totalmente do ‘rumo’ do que foi pedido”. Esses são alguns dos comentários comuns entre educadores de diversas disciplinas, que por sua vez cobram explicações do professor de Língua Portuguesa (L P), neste caso acham que o professor desta disciplina (L P) conseguirá resolver todos os problemas referentes à leitura, e pior, que tem obrigação de resolvê-los.
Se o aluno vai mal na leitura, escrita e interpretação acredita-se que a culpa é do professor de L P.
Retomando ao conceito de leitura, pode-se dizer que é uma responsabilidade de todos. O aluno quando passa a freqüentar a escola traz consigo um conhecimento o qual aqui chamaremos de ‘leitura de mundo’, conforme Paulo Freire, leitura esta que é por muitas vezes deixada do lado de fora da escola e o ato de ler se torna doloroso e taxativo, nos deparamos com ‘famosas’ frases feitas como “o aluno não sabe de nada”.
Fica excluído o prazer construindo-se estereotipo, o aluno conforme vai aprimorando sua escolarização menos sente prazer em ler, o aluno não consegue perceber a leitura como uma atividade significativa em sua vida e por isso não se interessa por ela, o que causa uma frustração tanto no aluno quanto no professor que na maioria das vezes (sem querer generalizar) acaba abrindo mão das atividades de leitura em sala de aula e fora desta.
Faz-se necessário uma abertura para uma reflexão de como e quando o aluno produz leitura, ou aprende a ler, segundo Coracini[3] (1995: p.19)
“Aprender a ler equivale a descobrir o significado das palavras do texto, a pronunciar corretamente, a localizar os momentos (ou idéias) principais dos textos ali depositados de forma definitiva pela vontade consciente do autor”.
Não pretendemos aqui entrar em níveis e estágios de leitura, mas pode-se dizer que a principal função da escrita é promover uma (inter) relação de sentidos internos (textos) e externos (leitor). A produção de leitura esta relacionada indiretamente com a produção de escrita, e esta ocorre quando o leitor se torna autor.
Após pesquisa recente na Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”, com alunos da 7ª série do período matutino, verifica-se o que realmente ocorre no ambiente escolar é o desencontro entre a leitura proposta e a leitura de gosto do educando.
No levantamento de dados em nenhum momento foi mencionado pelo alunado gosto ou interesse pelos textos trabalhados na escola, o interesse do aluno esta voltado para texto que circulam fora da escola como: revistas televisivas, gibis e outros do tipo e gênero e na maioria das vezes (não generalizando) o professor não consegue se desvincular do aparato didático nas aulas de leitura e produção de escrita volta-se então a ‘velha’ questão: o lugar em que os alunos deveriam compreender, praticar, (re) visitar e revisar torna-se local de conflito e obrigatoriedade, por um lado o educador não vê desenvolvimento do aluno e por outro o educando não quer (ou não sabe) atender as exigências de leitura proposta pela escola.
Pensando nesta temática somos levados a ver, (re) ver a posição dos PCNs, que para “socorrer” o educador apresenta propostas de trabalho com textos de gêneros variados, mas ainda assim há uma resistência por parte do educador em por em pratica esta proposta em sala de aula, no interior do Estado (como disse no início deste artigo) o educador tem como principal reclamação a falta de material para o desenvolvimento da leitura, a maioria alega a falta de biblioteca, relacionando a deficiência a uma macro – estrutura, se esquecendo que o que os alunos gostam de ler textos que circulam em meio ao seu grupo.
Um dos caminhos que pode representar uma mudança no modo de se encarar a leitura e escrita, são os Projetos Didáticos e Temáticos, que não é uma solução “mais fácil”, mas sim requer o envolvimento de todos os professores e principalmente da comunidade escolar, que necessita se mobilizar para resolver o problema e não apenas deixar na responsabilidade para professor de LP, e jamais podemos esquecer que todas as demais disciplinas necessitam da leitura, escrita e interpretação tanto quanto ou mais que Língua Portuguesa.
Deixo para um próximo artigo esse tema sobre Projetos Didáticos e Temáticos, lembrando que o ato de ler existe independente da Escola, basta lembrarmos que o mundo existe e nós existimos nele, vivenciamos experiências que apesar de parecidas são únicas para cada individuo, o aluno não vem para a escola como um “saco vazio”, mas carregado de experiências, vivências e novidades, basta abrirmos a mente e principalmente o coração...
BIBLIOGRAFIA
CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo. 2003.
*Acadêmica do Curso de Letras da UNEMAT – Projeto Parceladas Núcleo de apoio Pedagógico de Confresa - MT
[1] Este artigo baseia-se em pesquisa realizada no Município de São José do Xingu, na Escola Estadual “Antonio Gomes Primo”, pesquisa esta intitulada “Problemas de leitura e escrita dos alunos da 7ª série da Escola Estadual “Antônio Gomes Primo”.
[2] MARTINS, Maria Helena: O Que é Leitura, coleção Primeiros Passos: São Paulo.2003.
[3] CORACINI, Maria José R. O. “Leitura Decodificação, processos discursivos...” In O jogo do discursivo na aula de Leitura. Língua Materna e Língua Estrangeira. Campinas SP. Pontes, 1995:13-20.
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