sexta-feira, 2 de julho de 2010

SEU OU TEU, EIS A QUESTÃO: O QUE DIZEM OS GRAMÁTICOS


Leodineia Gisete Bocato


Pelo presente artigo pretende-se comparar como estruturalistas discutem o uso do pronome “SEU”. Os estudos lingüísticos modernos trazem novos campos de pesquisa, como exemplo o lingüista francês Antoine Meillet[1] (1866-1936) propunha uma definição desse fato social, ou seja, buscou o entendimento do caráter social da língua. Por outro lado, Ferdinando Saussure[2] (1857-1913) defendia a separação das condições externas, considerando a sincronia distinta da diacronia, pode-se dizer que Saussure propõe uma separação entre os elementos internos e externos.
A partir disso os estudos lingüísticos avançam e surge a Sintaxe[3] que tem como foco de analise os sintagmas (sentenças), que possui duas grandes vertentes: 1 – Formalista ou clássica, que estuda a linguagem analisando a sua função, segundo a linha de Saussure. 2 – Sobre outra perspectiva temos o funcionalismo que observa a linguagem do ponto de vista das necessidades comunicativas. Dentro da funcionalista temos o Gerativismo que segundo Rosane Berlinck[4] traz a seguinte definição:
“A teoria Gerativista vê a linguagem como uma dotação genética. (...) A competência é a gramática interiorizada do falante, enquanto desempenho designa o uso do concreto que o falante traz desse seu conhecimento internalizada.” (2004:210)

Com base em Berlinck[5] e sua definição sobre o “uso concreto da fala.
Já a gramática do uso ou gramática internalizada propõe uma analise de como a linguagem vem sendo praticada em um meio social independente da norma, conforme explicação de Sírio Possenti[6] em “Por que (não) ensinar gramática na escola”:
“(...) A definição de gramática – conjunto de regras que o falante domina – refere-se a hipótese sobre os conhecimentos que habilitam o falante a produzir frases ou seqüências de palavras de maneira tal que essas frases e seqüências são compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua (...)” (2004:69)

Com essa explicação, temos como objetivo comparar como tratam o uso do Pronome Possessivo da 3ª pessoa “SEU”, na gramática normativa. Para retomarmos essa análise, utilizaremos frases retiradas de anúncios em uma revista feminina[7]:
(1) “Mulheres fortes de coração frágil como proteger o seu”
De acordo com a gramática normativa de Cegalla[8], o pronome possessivo na terceira pessoa do singular SEU tem por função atribuir posse de alguma coisa à pessoa do discurso (2002:173), ainda complementa que tanto pode se referir a 3ª pessoa como a 2ª pessoa do discurso, em casos em que ocorra ambigüidade os mesmos devem ser substituídos pela expressão “dele” (2002:517). Na frase 1 vemos que o pronome SEU tem a função de substituir o substantivo “coração”, não dando margem para a ambigüidade.
Nas frases:
(2) “..., o melhor é a prevenção e consultar regularmente seu médico.”
(3) “Alergia. Um assunto que merece sua atenção.”
(4) “Você sabe onde seu adolescente esta agora?”
(5) “..., a ordem é que os objetos combinem com o seu jeito de ser.”

Vemos uma outra ocorrência, o pronome SEU ocupa lugar de 2ª pessoa TEU, de acordo com as regras da gramática normativa de Cegalla[9] e Bechara[10], para os gramáticos atuais essa ocorrência já configura como comum, mas de acordo com os gramáticos mais “antigos”, ou podemos dizer mais estruturalistas e tradicionais, essa regra não é aceita, conforme podemos analisar Rocha Lima[11]:
“Pronomes possessivos são palavras que fazem referencia as pessoas do discurso, apresentando-as como possuidoras de alguma coisa. Tais palavras são pronomes da mesma família dos pessoais, porque sua significação, meramente acidental, gera em torno das pessoas do colóquio”.(1992:110 e 111)

Vemos que o autor não faz menção do uso do pronome seu na segunda pessoa do singular como ocorre nas gramáticas de Cegalla, citada anteriormente, e Bechara[12] a qual abrimos um parêntese para comparação de textos:
“Seu e dele para evitar confusão – Em algumas ocasiões, o possessivo SEU pode dar lugar a dúvidas a respeito do possuidor. Remedia-se o mal com a substituição de seu, pela forma dele, conforme convier.” (2004:181)

Concluímos então que as gramáticas normativas atuais apresentam pronome SEU não só como pronome de uso na 3ª pessoa do singular, mas também apresentam a possibilidade de variação na 2ª pessoa do singular, seguindo uma tendência mais de uso do que da norma. A questão a ser discutida é: Como os professores trabalham essa questão em sala de aula? Será que os alunos têm acesso ao material necessário para solucionar as duvidas existentes sobre essa questão?
Vemos que há a necessidade de o professor trabalhar com materiais diversificados, buscando diversas bibliografias no sentido de estabelecer uma comparação entre os gramáticos clássicos e os gramáticos atuais que trabalham com a variação de uso da língua. Aos alunos cabe a missão da pesquisa não somente em livros didáticos, mas também em textos diversos, principalmente revistas de grande circulação, pois somente através do contato direto com esse tipo de literatura, o aluno conseguira estabelecer diferenças entre a norma padrão e a variação lingüística em uso.
O importante é que tanto o SEU quanto o TEU suprem as necessidades do falante que se faz entender, e na escrita seria interessante o levantamento de discussão pelas partes interessadas, quer alunos ou professores, sempre recorrendo a diversos autores para conciliar o uso dos termos.
O grande desafio atual e poder conciliar, tanto o uso da língua e a norma culta sempre lembrando que língua materna e língua padrão não são a mesma coisa, mas isso já é tema para um outro trabalho.
BIBLIOGRAFIA
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 27ª ed. revisada e ampliada. 14ª
reimpressão, Rio de Janeiro, Lucerna, 2004.
CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – para os
estudante do nível fundamental e médio e os estudiosos da língua nacional. 45ª ed.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José
Olympio Editora, 1992
MUSSALIM, Fernanda Org. Introdução a Lingüística domínios e fronteiras I. 4ª ed. São
Paulo, Cortez, 2004.
POSSENTI,Sírio. Porque (não) Ensinar Gramática na Escola. 12ª reimpressão. Campinas:
Mercado de Letras, 2004.
Revista Claudia nº 6 ano 44, da editora Abril publicada em Junho de 2005.

[1] CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
[2] Idem a 1.
[3] MUSSALIM, Fernanda Org. Introdução a Lingüística domínios e fronteiras I. 4ª ed.São Paulo: Cortez, 2004.
[4] Idem a 3
[5] idem a 3
[6]POSSENTI,Sírio. Porque (não) Ensinar Gramática na Escola. 12ª reimpressão. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
[7] Extraído da Revista Claudia nº 6 ano 44, da editora Abril publicada em Junho de 2005.
[8] CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa – para os estudante do nível fundamental e médio e os estudiosos da língua nacional. 45ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002
[9] Idem a 9
[10] BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 27ª ed. revisada e ampliada. 14ª reimpressão, Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
[11] LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 31ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1992
[12] Idem a 11.

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