O ELEMENTO HISTORICO SOCIAL COMO PERSONAGEM NA OBRA O MULATO DE ALUIZIO DE AZEVEDO
LEODINEIA GISETE BOCATO *
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu em 1857, na capital São Luiz do Maranhão, filho do vice-cônsul português em São Luiz, recebe a ajuda do irmão Artur Azevedo, muda-se para o Rio de Janeiro onde trabalha em vários jornais como caricaturista, retratando a política e o humor em sua época. Em 1881 lança sua primeira obra de relevo para o Realismo/Naturalismo: O Mulato, denunciando o preconceito racial das famílias ricas da província e do Estado do Maranhão. [1]
Azevedo apresenta uma forte influência de Zola e Eça de Queirós, durante 13 anos Azevedo vive exclusivamente de seu trabalho com escritor obtendo uma grande produção de romances, contos, operetas, revistas teatrais todos baseados no Realismo.[2]
Para BOSI Azevedo atinge o Naturalismo tanto no nível ideológico como no nível estético:
(...) no nível ideológico,..., na esfera da explicação do real, a certeza subjacente de um fato irreversível, cristaliza-se no determinismo (da raça, do meio, do temperamento...).
No nível estético, em que o próprio ato de escrever é o reconhecimento implícito de uma faixa de liberdade (...)[3]
Diante do exposto buscamos uma analise do Elemento Histórico – Social na obra O Mulato de Aluísio Azevedo, o qual apresenta fortes características de personagem na obra, pois a sociedade e seu tom conservadorista dão o ritmo da trama de Azevedo.
Antes de aprofundarmos, se faz necessária uma explicação a respeito do Realismo/Naturalismo. O Realismo assume tom de naturalismo, quando as personagens e o enredo são submetidos ao destino seguindo rigorosamente as leis naturais impostas pela época, o Naturalismo toma enfoque de tese e denúncia, no caso de O Mulato, denúncia de uma sociedade conservadora e corrompida pelo preconceito das famílias maranhense e a igreja na imagem do padre/bispo Dom Diogo, que cabula a trama manipulando-a do início, com a tragédia da morte do pai de Raimundo (O Mulato), provocado pelo padre que mantêm um relacionamento amoroso com Quitéria madrasta de Raimundo, este filho de uma escrava que se vê louca pelos maus tratos de dona Quitéria, até a morte do próprio Mulato Raimundo em que o padre/bispo, planeja com requintes de crueldade, para esconder seus segredos de mocidade, preservando assim uma suposta ordem social.
Azevedo apresenta logo no inicio do livro uma descrição da capital maranhense São Luiz, carregada de ironia: “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luiz do Maranhão parecia entorpecida de calor.” (2005:15)[4], desde a apresentação da cidade de São Luiz o autor tenta apresenta-la com uma coisa insignificante, melhor dizer quase que morta, mas que pulsa uma sociedade mesquinha cheia de preconceitos e feridas que maculam as pessoas de status sociais na trama, como exemplo temos o tio de Raimundo e sua família composta por sua filha Ana Rosa, moça inocente aparentemente que se apaixona pelo meio primo Raimundo, e sua sogra D. Mariana mulher carregada de preconceito que despreza Raimundo por sua condição de Filho de escrava com português e que o apelida de Mulato, dona Mariana é a figuração da sociedade Maranhense, pois seus pensamentos e seus preconceitos são compartilhados e com a maioria da população daquela sociedade.
Manuel Pescada próspero português se estabelece em São Luiz trabalhando no comercio se torna comerciante próspero e amante de Camões, também compartilha dos preconceitos, e abomina a união de Ana Rosa.
Antonio Candido[5] nos explica acerca do Elemento Histórico Social:
“O elemento social se torna um dos muitos que interferem na economia do livro ao lado dos psicológicos, religiosos, lingüísticos e outros. Neste nível de análise, em que a estrutura constitui o ponto de referencia, as divisões pouco importam, pois tudo se transforma, para o critico, em fermento orgânico de que resultou a diversidade coesa do todo.” (2002:07)
Podemos dizer então, que o elemento histórico social deve ser entendido como a personagem principal, pois devido a historia de colonização brasileira e a maneira com que foram tratados os escravos no Brasil até abolição da escravatura resulta no enredo de O Mulato.
Azevedo nada mais faz, do que alertar a podridão que esta inserida na sociedade de sua época, mostra ainda que apesar de errado o sistema nada oferece para mudar a situação latente.
O exemplo dessa situação esta claro quando na morte d’Mulato, Ana Rosa se casa com Luiz Dias pessoa que ela abominava como homem e apesar do grande amor que sentia por Raimundo se torna a mais dedicada das esposas honrando e amando seu marido[6]:
“O Dias tomara seu chapéu no corredor, e, ao embarcar no carro que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
_ Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!”(2005:247)
Nestas ultimas palavras do livro, vemos que o elemento histórico social esta presente no esquecimento da personagem Raimundo, que representava uma vergonha para a raça branca, triunfa ao fim do livro a sociedade e personagem principal (elemento histórico social) sai vitoriosa, por um outro lado o Naturalismo demonstra bem a incapacidade de uma mudança na situação, pois a realidade perde o tom romântico do final, felizes para sempre apesar das dificuldades, e ganha a cor cinza da realidade.
BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª
edição, Cultrix. São Paulo.2003.
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo
, 2002.
* ACADEMICA DO CURSO DE LETRAS DO PROJETO PARCELADAS DA UNEMAT – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.
[1] BOSI, Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira”, in – Aluízio Azevedo e os principais naturalistas – 14ª edição, Cultrix - São Paulo. 2003
[2] Idem ao 1.
[3] BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª edição, Cultrix. São Paulo.2003.
[4] AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
[5] CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo , 2002.
[6] Idem a 4
LEODINEIA GISETE BOCATO *
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nasceu em 1857, na capital São Luiz do Maranhão, filho do vice-cônsul português em São Luiz, recebe a ajuda do irmão Artur Azevedo, muda-se para o Rio de Janeiro onde trabalha em vários jornais como caricaturista, retratando a política e o humor em sua época. Em 1881 lança sua primeira obra de relevo para o Realismo/Naturalismo: O Mulato, denunciando o preconceito racial das famílias ricas da província e do Estado do Maranhão. [1]
Azevedo apresenta uma forte influência de Zola e Eça de Queirós, durante 13 anos Azevedo vive exclusivamente de seu trabalho com escritor obtendo uma grande produção de romances, contos, operetas, revistas teatrais todos baseados no Realismo.[2]
Para BOSI Azevedo atinge o Naturalismo tanto no nível ideológico como no nível estético:
(...) no nível ideológico,..., na esfera da explicação do real, a certeza subjacente de um fato irreversível, cristaliza-se no determinismo (da raça, do meio, do temperamento...).
No nível estético, em que o próprio ato de escrever é o reconhecimento implícito de uma faixa de liberdade (...)[3]
Diante do exposto buscamos uma analise do Elemento Histórico – Social na obra O Mulato de Aluísio Azevedo, o qual apresenta fortes características de personagem na obra, pois a sociedade e seu tom conservadorista dão o ritmo da trama de Azevedo.
Antes de aprofundarmos, se faz necessária uma explicação a respeito do Realismo/Naturalismo. O Realismo assume tom de naturalismo, quando as personagens e o enredo são submetidos ao destino seguindo rigorosamente as leis naturais impostas pela época, o Naturalismo toma enfoque de tese e denúncia, no caso de O Mulato, denúncia de uma sociedade conservadora e corrompida pelo preconceito das famílias maranhense e a igreja na imagem do padre/bispo Dom Diogo, que cabula a trama manipulando-a do início, com a tragédia da morte do pai de Raimundo (O Mulato), provocado pelo padre que mantêm um relacionamento amoroso com Quitéria madrasta de Raimundo, este filho de uma escrava que se vê louca pelos maus tratos de dona Quitéria, até a morte do próprio Mulato Raimundo em que o padre/bispo, planeja com requintes de crueldade, para esconder seus segredos de mocidade, preservando assim uma suposta ordem social.
Azevedo apresenta logo no inicio do livro uma descrição da capital maranhense São Luiz, carregada de ironia: “Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luiz do Maranhão parecia entorpecida de calor.” (2005:15)[4], desde a apresentação da cidade de São Luiz o autor tenta apresenta-la com uma coisa insignificante, melhor dizer quase que morta, mas que pulsa uma sociedade mesquinha cheia de preconceitos e feridas que maculam as pessoas de status sociais na trama, como exemplo temos o tio de Raimundo e sua família composta por sua filha Ana Rosa, moça inocente aparentemente que se apaixona pelo meio primo Raimundo, e sua sogra D. Mariana mulher carregada de preconceito que despreza Raimundo por sua condição de Filho de escrava com português e que o apelida de Mulato, dona Mariana é a figuração da sociedade Maranhense, pois seus pensamentos e seus preconceitos são compartilhados e com a maioria da população daquela sociedade.
Manuel Pescada próspero português se estabelece em São Luiz trabalhando no comercio se torna comerciante próspero e amante de Camões, também compartilha dos preconceitos, e abomina a união de Ana Rosa.
Antonio Candido[5] nos explica acerca do Elemento Histórico Social:
“O elemento social se torna um dos muitos que interferem na economia do livro ao lado dos psicológicos, religiosos, lingüísticos e outros. Neste nível de análise, em que a estrutura constitui o ponto de referencia, as divisões pouco importam, pois tudo se transforma, para o critico, em fermento orgânico de que resultou a diversidade coesa do todo.” (2002:07)
Podemos dizer então, que o elemento histórico social deve ser entendido como a personagem principal, pois devido a historia de colonização brasileira e a maneira com que foram tratados os escravos no Brasil até abolição da escravatura resulta no enredo de O Mulato.
Azevedo nada mais faz, do que alertar a podridão que esta inserida na sociedade de sua época, mostra ainda que apesar de errado o sistema nada oferece para mudar a situação latente.
O exemplo dessa situação esta claro quando na morte d’Mulato, Ana Rosa se casa com Luiz Dias pessoa que ela abominava como homem e apesar do grande amor que sentia por Raimundo se torna a mais dedicada das esposas honrando e amando seu marido[6]:
“O Dias tomara seu chapéu no corredor, e, ao embarcar no carro que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
_ Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!”(2005:247)
Nestas ultimas palavras do livro, vemos que o elemento histórico social esta presente no esquecimento da personagem Raimundo, que representava uma vergonha para a raça branca, triunfa ao fim do livro a sociedade e personagem principal (elemento histórico social) sai vitoriosa, por um outro lado o Naturalismo demonstra bem a incapacidade de uma mudança na situação, pois a realidade perde o tom romântico do final, felizes para sempre apesar das dificuldades, e ganha a cor cinza da realidade.
BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª
edição, Cultrix. São Paulo.2003.
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo
, 2002.
* ACADEMICA DO CURSO DE LETRAS DO PROJETO PARCELADAS DA UNEMAT – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.
[1] BOSI, Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira”, in – Aluízio Azevedo e os principais naturalistas – 14ª edição, Cultrix - São Paulo. 2003
[2] Idem ao 1.
[3] BOSI,Alfredo “Historia Concisa da Literatura Brasileira – in V O Realismo – um novo ideário – 41ª edição, Cultrix. São Paulo.2003.
[4] AZEVEDO, Aluisio “O Mulato”. Série Bom Livro, 3ª ed. São Paulo 2005
[5] CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade Estudo de Teoria e Historia Literária. 8ª ed. TAO São Paulo , 2002.
[6] Idem a 4
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