A FUNÇÃO DA ILUSTRAÇÃO N’O MENINO MALUQUINHO
Leodineia Gisete Bocato *
“O Menino Maluquinho não parece tão inovador, pois Ziraldo emprega seu traço característico em figura desenhada em preto sobre o fundo branco, onde coloca o texto”(2005:156)[1]
O livro O Menino Maluquinho de Ziraldo Alves Pinto, embora não apresente uma novidade nas ilustrações se transforma em fenômeno da literatura infantil em 1980 consagrando seu autor.
Ziraldo nasce em 1932 na cidade de Caratinga Minas Gerais, formo-se em Direito na faculdade de Direito de Minas Gerais em Belo Horizonte. O “mineirinho” Ziraldo em 1980 lança O Menino Maluquinho na Bienal do livro de São Paulo, como Zilberman, assinala as ilustrações de Ziraldo mantêm seu traço característico, desenhos pretos sobre o branco com exceção a capa em que O Menino Maluquinho traja roupas e sapatos coloridos, traz marcas nas bochechas como se representando uma expressão de alegria e vida saudável, traz também uma panela na cabeça que é sua marca como herói.
Na entre capa Ziraldo concebe uma ilustração com varias crianças e personagens criadas por ele, todos com expressão de felicidade.
No decorrer do livro Ziraldo[2] apresenta um menino que embora não tenha nome próprio se distingue dos demais pelo uso do artigo “O”. A construção da personagem busca um entrosamento da ilustração ajudando na compreensão e aguçando o imaginário infantil, como exemplo, vemos a apresentação do menino e suas qualidades representadas nas ilustrações:
1-“Era uma vez um menino maluquinho”(1980:07)
2-“Ele tinha o olho maior que a barriga” (1980:08)
3-“Tinha fogo no rabo” (1980:09)
4-“Tinha vento nos pés” (1980:10)
5-“Umas pernas enormes
(Que davam para abraçar o mundo)” (1980:11)
6-“E macaquinhos no sótão
(embora nem soubesse o que
Significava macaquinho no sótão)”(1980:12)
7-“Ele era um menino impossível!” (1980:13)
As ilustrações do próprio autor demonstram exatamente o que diz o texto, O Menino Maluquinho aparece com traços de olhar maroto e arteiro com a língua de fora numa expressão maliciosa (1), na pagina seguinte um grande olho representa sua cabeça (2), pois ele tem o olho maior que a barriga, um pavio com fogo na ponta remete a expressão “fogo no rabo” (3) e que literalmente esta pendurado em suas nádegas. Sua agilidade vem representada por asas desenhadas em seus pés (4), suas pernas são representadas de forma exageradas (5), os macaquinhos no sótão estão relacionados a sua imaginação fértil e vem representado na ilustração com macacos na cabeça do menino (6), finalizando a explicação com a junção de todas as ilustrações apresenta uma forma fantástica com os membros e cabeças destorcidas pelas informações dadas pelo autor (7).
Segundo Márcia Tavares Silva[3]:
“...Essas funções compreendem uma percepção de que a ilustração de um texto condensa muitas possibilidades de diálogo entre o que está escrito e a imagem visual, carregando as leituras do texto de significados, narrando as ações usando de metalinguagens visuais ou simplesmente anunciando seu início ou fim. A leitura do elemento visual por parte do leitor infantil compreende uma das possíveis abordagens do texto literário produzido para criança.” (144)
Silva utiliza o estudo de Roman Jakobson para explicar como a linguagem visual é usada no contexto dos livros infantis para produzir significados. No livro de Ziraldo as ilustrações são usadas de acordo com o texto escrito, fazendo uma representação das palavras conforme estão dispostas no texto, totalmente voltadas para a significação e compreensão do imaginário infantil e como se os desenhos fossem produzidos por uma mente infantil, no ato da leitura.
Ziraldo brinca com o imaginário infantil pensando como uma criança, no decorrer do livro aparecem ainda beijinhos e corações vermelhos como modo de imaginação do menino, durante todo o livro as figuras mostram o desenvolvimento de uma criança e sua imaginação, problemas cotidianos, brincadeiras infantis, divertimentos com a escola retratando a alegria do aprender e das descobertas da infância.
Ziraldo ainda utiliza símbolos da realidade e personagens criados por ele para valorizar a importância da leitura e da brincadeira. O livro trás ilustrações de varias crianças para representar o adulto que se tornou o menino, todas com expressão feliz e sorridente, embora os trajes sejam de um adulto responsável e sério na representação da gravata.
Vimos então que O Menino Maluquinho é construído a partir de sua própria imaginação infantil como sugere Zilberman[4]: “ O Menino Maluquinho constrói-se, pois, a partir do ângulo da imagem figurativa do herói, estando cada pagina dedicada a um recorte de seu cotidiano.”(2005:156)
Arriscamos uma ousada interpretação de que O Menino Maluquinho nada mais é que uma autobiografia da infância de Ziraldo, mas isso é tema para um próximo trabalho.
BIBLIOGRAFIA
SILVA, Márcia Tavares in Brincar com as palavras e imagens.
ZILBERMAN,Regina. A Literatura Infantil Brasileira in Quando fala a ilustração. Rio de Janeiro
. Objetiva,2005.
ZIRALDO. O Menino Maluquinho. São Paulo. Melhoramento, 1980.
* Acadêmica do Curso de Letras na Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Projeto Parceladas
[1] ZILBERMAN,Regina. A Literatura Infantil Brasileira, in Quando fala a ilustração. Rio de Janeiro.Objetiva.2005
[2] ZIRALDO. O Menino Maluquinho.São Paulo: Melhoramentos,1980.
[3] SILVA, Márcia Tavares, in Brincar com as palavras e imagens
[4] Idem ao 1
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