segunda-feira, 21 de junho de 2010

CONTO: CONTACTO


O verde rodando, a girar, a girar...
Rodopiam as folhas com raios claros, solares, a entrar em suas brechas e a iluminar meus olhos, rosto e a alma toda...
As narinas dilatadas para captar os aromas da mata fechada cortada por uma estrada que não tem mais fim, cheiros de menta, misturados ao almiscarado dos animais, e a madeira com as seivas a escorrer provocando uma mistura que entorpece...
Vultos cruzam brechas iluminadas, a música confusa dos pássaros alvoroçados se misturam aos sons de folhas a balançar, que se tocam e promovem um som sensual, como o de roçar de peles.
O vento enlaça os galhos que estalam delicadamente, assemelhando-se a beijos trocados em surdina, pequenos insetos cantarolam melodias discretas diferentes, que se aliam uma a outra formando canções que arrepiam a pele e aguçam os ouvidos sensíveis.
O bater das asas das borboletas entorpecem e dissipam os aromas que compõem esse ato, as gotas de orvalho que escorrem das veias sinuosas das folhas e escorrem nas profundezas dos leitos das cascas de troncos envelhecidos até tocarem com delicadeza a terra, que em sua ânsia suga-as para seu interior, como que querendo roubar-lhes o conhecimento de sua trajetória exterior...
E eu aqui parada...
Sem poder me mover e em uma fração de segundo, tudo silencia, a voz humana encobre os sons mágicos.
Só escuto uma voz, uma afirmação e uma pergunta débil:
“Esse trecho de mata na estrada tem um cheiro bom! Não acha?”.
“É...” também é fresco...
Em um quarto de segundo a sinfonia se encerra...
Sons ensurdecedores voltam a povoar o universo.
A grama e o capim que agitados ao vento produzem sons de coisa nenhuma.
A árvore isolada na pastagem grita transloucada a procura de respostas, e espera um toque de caricia em suas folhas, que se agitam em vão ao som de um ruminar de um bovino, que mantém os olhos parados no além, com olhar de vaca preste a ir para o matadouro.
O caminhar desses animais provoca angústia e maltrata a relva que se desespera ao ser devorada...
E o caminho continua adentrando e ocupando o inconsciente que agora se faz de surdo...
Os raios de sol agridem o olhar provocando um despertar...
Será que estava adormecida?
Será que sonhos povoam a mente que não para nem em um cochilar?
Em mundo vivo... como vivo... ou será que estou mesmo surda ou morta...
Na verdade, morta...como a natureza no quadro pintado atrás de mim...

AUTORA: LÉO BOCATO (ESCRITO EM (20/01/2007)

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